Oi, Boston!

“Coisa que gosto é poder partir, sem ter planos…”

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E então parti.  Combinei com o administrador do hostel, uma van para me levar até o aeroporto. E lá fui eu, toda prosa. No meio do caminho, ainda observando a cidade junto aos meus pensamentos, tive uma sensação de amputação. Estava faltando algo. De fato estava, meu amor, minha família, meus filhos. Mas confundi os sentimentos. O que faltava era nada mais, nada menos do que MINHA CÂMERA! Aqueles segundos do “estalo” que eu havia esquecido minha amiga-parceira-terapeuta-confidente em cima do balcão, pareciam uma eternidade! Pedi desesperadamente gentilmente que o motorista retornasse. E vcs sabem, na América time is money, então prometi pagar a mais pela corrida. Depois de bufar, meio contrariado, ele voltou. Mas antes disse que precisava pegar outro passageiro, ali próximo. Momentos de tensão. Outra eternidade. O tal passageiro era um brasileiro, de SP, tb fotógrafo! Enquanto não chegávamos, milhares de pensamentos passavam em minha mente. Eu já havia dado minha câmera por perdida. Já bolava estratégias de como comprar outra. Pensava na minha agenda lotada até início de agosto. Pensava no fim trágico de minha carreira, afinal, o que é uma fotógrafa sem sua câmera!? Um nada.

Entrei correndo e lá estava ela, no mesmo lugar onde eu havia deixado. Intocável, mesmo naquele entra e sai de um hostel barato de centro da cidade. A sensação de alívio é indescritível! E a alegria em saber que há um mundo bacana por aí, pois venhamos e convenhamos: e se fosse no Brasil!? Um objeto com valor na base de R$7.500,00, dando sopa!? Me dá calafrios só de imaginar. E que sirva de lição. Lugar de câmera fotográfica, é no pescoço! E ‘simbora seguir viagem! E de papo furado com o fotógrafo paulista, é claro! Nem lembro o nome dele para ser bem sincera. Mas a conversa foi basicamente sobre fotografia de evento, flash, ISO, edição. E adeus.

No aeroporto, eu para variar perdida como barata tonta, pedia informação com meu inglês de 7ª série. Não, 8ª série. Não, péra… Uma coisa interessante que pude observar nessas minhas andanças é que, onde quer que eu esteja, sempre tem um alguém que fala alguma palavra de português! Mais ou menos assim: “Where do you from?” “Brasil!” “Own, Brazil! Obrigado! Pão de queijo! Caipirinha!” Sério. Mas impossível não rir! Já embarcada, rumo a Boston, eu bem que tentava colocar minhas leituras em dia, e por isso levei meu ‘kindle’ a tira-colo. Há 1 ano tento terminar o livro “Longe da Árvore” de Solomon, mas ainda não é o momento. Me perco em meio aos pensamentos, lembranças e sacodes que ele me dá perante a vida. E neste momento, minha própria companhia já era o próprio sacode de realidade que eu precisava. Fica pra próxima.

Amanheceu! Oi Boston! Que dia lindo! E eu, tolinha!- preparada para o frio que me disseram que fazia lá. Mais uma vez aquela sensação de “para onde vou? esquerda ou direita?”,  somente com um endereço em mãos. Ônibus!? Trem!? Metrô!? Que fique claro, isso não é uma reclamação, mas uma observação. Gosto demais disso, foi o que busquei pra mim. Não saber o que vai acontecer nas próximas horas, me fascina! Fui de táxi. E até o destino final, casa de uma amiga recém chegada a Boston há poucos dias, fui absorvendo tudo a minha volta como de costume. Me senti um pouco em São Paulo. É só o que posso dizer sobre aquele momento.

A Perla tem um filho com paralisia cerebral, assim como meu Leo. Ambos da mesma idade. Após ser recebida com bom papo e um café fresco, pude pegar Gabriel no colo e assim, me sentir tb mais perto de meu filho. A saudade doía ainda mais! Estes dois dias e meio em Boston, me ensinaram muita coisa, mas principalmente me mostrou coisas que antes eu não conseguia enxergar. E é sobre isso que quero falar com todo carinho e respeito do mundo.

Há 8 anos escuto absurdos como “vc é especial”, “escolhida por deus”, “seu filho é uma dádiva”, “como vc é forte!”, “que guerreira vc é!”, “fortaleza de mãe!”. Agradeço profundamente a (boa) intenção, mas isso não é nada legal de escutar. Sempre bati na tecla de que se existe mesmo um deus,  e se sou tão especial assim, pq ele não me abençoaria com uma criança saudável?! A carga que se carrega diante dessas palavras, é muito grande. É como se fôssemos fortes o suficiente para aguentar sofrimentos que uma outra mãe qualquer não aguentaria e isso nos endeusa, o que é irreal. É como se não fosse permitido chorar, sofrer, se lamentar. Pq, né!?- somos as escolhidas/especiais/privilegiadas. Mas a verdade é que apenas não temos outra opção a não ser, sermos fortes. Pq filho é filho, com ou sem paralisia cerebral. Estas palavras, sempre vieram de pessoas “normais”, com filhos “típicos”, daqueles que se encaixam nos padrões que a sociedade exige. E ter passado este tempo com uma família parecida com a minha, me fez enxergar muita coisa de uma forma bem diferente. Consegui ver, o que as outras pessoas vêem em mim. Como elas me enxergam. Afinal, ali eu não era a mãe do Leo. Era somente a Mari.

Era inevitável olhar aquela mulher, cuidando bravamente de seu filho, sem pensar: “U-A-U!” Quanta admiração! Não somente pelo cuidado amoroso e tempo dedicado ao pequeno Biel. Mas pela facilidade e leveza com que ela parecia encarar tudo. Naturalmente. Como é de fato. Ou como deveria ser. Ao observar e acompanhar sua rotina, desde cuidados básicos de higiene, até a luta que é sair de casa com uma criança com severo comprometimento motor, passei a entender o que as outras pessoas sentiam em relação a mim e meu filho. E então, aquelas palavras que sempre ouvi, passaram a soar de forma diferente em meu coração. Não que eu agora concorde, não é isso. Mas agora eu compreendo. Pq de certa forma, eu me vi naquela mãe. Eu vi meu filho naquela criança. De fora. Sem estar vivendo. E assim, me senti mais forte, mais capaz, com vontade de bater no peito e dizer: “Sim, nós somos incríveis!” Não é pra qualquer um. E por isso, sempre serei grata a Perla e sua família. Pela amizade e acolhimento. E mesmo sem querer, apenas por ser, me fazer perceber o que eu não conseguia antes.

Boston é uma cidade realmente incrível! Acho que é o lugar mais civilizado que já conheci na vida, em relação a respeito, educação, cidadania. Referência da área da saúde, capital financeira dos EUA, onde estão as melhores faculdades do país (vida Harvard e Cambridge), e as maiores descobertas científicas da neurologia e medicina.  Talvez por ser uma das cidades mais antigas dos EUA, sua arquitetura tem um ar colonial,  que chama muito a atenção por contrastar com arranhas-céu e charmosos canais. Boston respira história! Quase me deu vontade de viver lá pra sempre, se não fosse os 8 meses de inverno que os moradores são obrigados a enfrentar. Fizemos diversos passeios, e com o Biel junto a nós, posso dizer que o quesito acessibilidade é um exemplo a ser seguido! É uma cidade muito HUMANA no sentido literal da palavra. Tudo parece feito bem pensado para dar qualidade de vida e conforto aos cidadãos.

Apesar de ser um lugar caro para se viver, os programas para turistas cabem no bolso e a comida é deliciosa e com preço justo. No RJ por exemplo, comer um belo prato de frutos do mar a beira do oceano é um evento para poucos mortais. Em Boston, além do ótimo atendimento e qualidade, não paga-se mais do que $20 dólares em uma refeição completa para uma pessoa. Tivemos tb a oportunidade de fazer um passeio de barco, conhecendo a cidade do alto mar. E não pude deixar de reparar, em um funcionário do programa, deficiente físico! Aliás, por todas as partes os deficientes estão integrados no mercado de trabalho. Tb vi grupo de deficientes intelectuais, todos devidamente identificados com crachás e sorriso no rosto, se divertindo como todos nós. Logo, concluo que a inclusão SOCIAL existe e é possível!

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Selfie de celular com a família amiga!

O bacana, é que eu e a família estávamos conhecendo tudo juntos, pela primeira vez. Era novidade para todos! Passamos por evento de rua em homenagem a heróis de guerra, entramos em um navio-museu, fomos ao “Quincy Market”, parada obrigatória para quem vai a Boston com uma diversidade cultural impressionante e festival gastronômico incrível! Há diversos parques, museus, shows ao ar livre, sem custos. Além de muitos artistas de rua, mega talentosos, como esta menina que não tive como não parar para ouvi-la.

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No meu Instagram: @marihartfotografia tem vídeo dela cantando lindamente!

Um momento top para mim, foi fazer uma refeição tipicamente mexicana comprada em uma espécie de ‘food truck’, sentada na grama perto do “Boston Common” (digamos que seja o “Central Park, de Boston!), assistindo a um show de talentos com muita música, dança, e diversas famílias a minha volta. Que energia boa! Que paz! Que sol junto com ar fresco, quase gelado! Não é preciso muito para se divertir. Mas fomos mais além! Andamos naqueles ônibus que rodam toda a cidade onde o divertido motorista vai narrando curiosidades e histórias sobre os lugares onde passamos. Ahhh, o vai e vem das pessoas! Ahhh, a vida passando sob meus olhos!

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Ache a fotógrafa! =)

Outra curiosidade de Boston, é o tamanho da comunidade brasileira que vive lá. Fui ao show beneficente em prol dos custos do tratamento do Biel nos EUA, com diversos cantores do Brasil. Para quem ainda não conhece essa história de luta e perseverança, acesse: S.O.S Gabriel Machado e vc tb pode ajudar o menino Gabriel concorrendo a um iphone6, clicando aqui:  Rifa Digital.

Além de tudo,  ainda fui a uma festa junina tipicamente brasileira organizada por eles próprios! Confesso não ser fã desse tipo de festa, mas ter conhecido histórias de brasileiros que vivem há tempo tempo lá, foi gratificante! Conheci muita gente bacana e do bem,  em sua maioria mineiros, gente que expressa grande parte dessa comunidade que tanto se ajuda e é unida.

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De todos os passeios, uma cena me chamou bastante atenção, e por isso dou destaque especial. Em um parque público, onde há um tanque de areia em que a irmãzinha do Biel, Maria brincava com os brinquedos locais (sim, os brinquedos tais como: baldes, carrinhos e pás são do parque, e ficam livres e soltos!), um menino de aproximadamente uns 9 anos se aproximou, olhou para o Biel e perguntou: “O que ele tem!? Ele está doente!?” Depois de explicado, ele continuou com suas curiosas perguntas, parecia bastante interessado. Tentávamos explicar da maneira mais simples possível e o menino atento a cada palavra. Ao final, precisávamos nos despedir, e ele perguntou se o Biel poderia voltar para brincar lá com ele. Ao sinal positivo, ele esticou a mão para dar um “Hi Five” e Biel mesmo com toda sua limitação causada pela paralisia cerebral, levantou sua mão junto! Me arrepiei da cabeça aos pés! Pela superação do pequeno guerreiro, e pelo interesse e inocência do menino. Lágrimas foram inevitáveis! E por falar em lágrimas, quase desidratei ao ver pela primeira vez um parquinho totalmente adaptado para crianças cadeirantes! Passei uns 30 minutos chorando compulsivamente, por ver concretizado diante de meus olhos, algo que parecia impossível!

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Não foi muito tempo, mas foi bastante intenso e o suficiente para deixar em mim memórias maravilhosas, ótimas impressões em quesitos que tanto aprecio e dou valor na vida. Como dizia minha falecida avó “menina, vc parece ter bicho carpinteiro! não para quieta!”, e um dia acordei com vontade de aproveitar o restante de minhas férias em outro lugar. Próximo destino: Miami. Porém, espero voltar em breve à Boston, e desta vez levando meus filhos para que possam sentir na pele tudo o que vivi. Noções primordiais de respeito às diferenças e humanidade.  Uma palavra para definir esta cidade linda e acolhedora: Autêntica.

Vejam vocês com seus próprios olhos, através de algumas imagens que capturei nas minhas andanças!

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Everett: a periferia de Boston
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Sinta o ‘nível’ da periferia.

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Da série: ache a fotógrafa!
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O charme nos detalhes!

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Carérrimo um apartamento na cidade. Mais do que vc está pensando.

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Crianças vendendo limonada na rua!

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Foto do IG @marihartfotografia
Foto do IG @marihartfotografia

“Liberdade de voar num horizonte qualquer, liberdade de pousar onde o coração quiser.”

Não é nenhum exagero dizer que minha vida pode ser dividida entre duas eras: antes e depois dos 30 anos. Não que eu renegue minha história, ela é responsável por quem sou hoje. Mas muitas vezes não me reconheço naquela mulher de alguns anos atrás. Pode até ser coincidência a fotografia ter entrado em minha vida justamente neste período de transcedência. Mas posso afirmar que ser fotógrafa me salvou! Me salvou de dúvidas, incertezas, de um emprego infeliz, de uma vida pacata de mãe-donadecasa-esposa. Me salvou de andar com a massa de manobra, de estar sempre buscando algo com a angústia de não saber exatamente o quê.

Foi exatamente nessa fase balzaquiana que descobri o prazer de fotografar, e percebi que eu retratava o que havia em mim. Com isso, fui me conhecendo mais, me (re)descobrindo, passei a olhar mais para dentro de mim mesma, e esse processo de amadurecimento tem um nome: empoderamento.

Empoderar. Tomar o poder para si. Se encorajar. Arcar com o ônus e bônus de suas escolhas, sem culpar ninguém por isso. Aceitar que a cada escolha, há uma renúncia. E que grande parte das vezes em que as coisas saem como não planejado, podem ser ainda melhores do que como foi sonhado. Como disse Paulo Freire, “empoderar é aumentar a capacidade de pensar criticamente e agir autonomamente”. E é isso que busco todos os dias.

A fotografia me deu essa liberdade. E ser livre, para mim é o maior bem que um ser humano pode conquistar em toda sua existência. E hoje, alguns anos depois, me sinto cada mais confiante em ser eu mesma, com todos os meus (muitos) defeitos e reconhecendo minhas qualidades. Com o tempo, aprendi que posso ser quem eu quiser, sem rótulos, sem me preocupar com a opinião alheia, que remar contra a maré pode ser difícil mas não exatamente um fardo. E a cada ano, a necessidade de viver em minha própria companhia foi aumentando. Fui criando uma bolha imaginária e vivendo dentro dela, para aí sim depois ter a confiança de abrir para o mundo.

Em minha “era” anterior, eu andava em bando. Me sentia insegura, desprotegida sozinha. Talvez reflexo de minha educação machista e conservadora, como grande maioria das mulheres vivem mesmo sem saber, nessa sociedade patriarcal e opressora. Eu nunca havia ido a um restaurante ou cinema sozinha, por exemplo. Na nova “era”, a fotografia me fez enxergar além, mesmo sem precisar ir muito longe, bastando olhar para dentro de mim. Hoje, estar sozinha me traz uma sensação de felicidade indescritível! Fui alçando vôos cada vez mais altos e a cereja do bolo, foi uma viagem internacional que fiz recentemente, durante 10 dias em junho.

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Reprodução Instagram: @marihartfotografia

Detalhes não vem ao caso no momento, mas o fato é que eu tinha uma passagem marcada para São Francisco- Califórnia para um projeto que acabou não dando certo, pelas surpresas (nem sempre boas) que a vida nos prega. Mas para mim RESILIÊNCIA é uma palavra de ordem para ser feliz. Ficar de ‘mimimi’ se lamentando, remoendo mágoas passadas não faz meu tipo. E então, decidi encarar uma aventura, não tão bem planejada, mas que deu mais certo do que eu poderia imaginar nem nos meus sonhos mais otimistas!

No dia 09 de junho de 2015 peguei um avião para uma das cidades mais lindas do mundo, sem saber o que fazer onde ficar, nem mesmo hotel eu havia reservado! Tentei resguardar meus planos o máximo possível, pois a cada pessoa que eu comentava sobre a idéia, no mínimo me chamavam de louca! E se isso é loucura, sejamos todos então! Desembarquei em São Francisco em um dia nublado, com mochila de equipamento nas costas e uma pequena mala de mão de algumas poucas mudas de roupa. Através da vidraça, olhei para um lado, para o outro, e pensei: “E agora!? Para onde vou!? Faço uni-du-ni-tê!? Na pior das hipóteses, eu passaria a noite no aeroporto mesmo. Na verdade, eu estava pouco me importando com isso.

Eu queria ter a sensação de não ter que olhar o relógio, checar e-mails, me preocupar com o que comer, ou com compromissos a cumprir. Eu queria arriscar, viver, sentir! Em busca de renovar minhas inspirações, meu olhar, meus sentimentos. Ressalto um ponto muito importante (tá, sei que vcs me chamarão de louca mais ainda! rs), meu inglês é o mais básico possível! Mais um desafio! Mas eu estava disposta e feliz em enfrentá-lo. Com um mapa em mãos, peguei uma van no aeroporto, sugestão de um senhor bem simpático no balcão de informações, e parti para o Centro. Já era final de tarde, uma chuva fina começava a cair, eu precisava ao menos encontrar um abrigo. Mesmo depois de quase 15hrs de viagem com conexão em algum tempo de espera no México, fui bater perna pelas ruas do Centro de São Francisco, tocando de porta em porta de ‘hostels”, até encontrar um porto seguro.

Primeira resposta negativa: não temos vagas. Mais outra. E outra. Inevitável pensar: “Phodeuô, fui longe demais! O que é que tô  fazendo aqui minha deusa!?” Mas como sou brasileira e não desisto nunca, com a ajuda de alguns aplicativos em meu iPhone (Salve Steve Jobs! I love you!) encontrei um hostel bem bonitinho. E o melhor, com quarto particular (muitos só oferecem alojamento conjunto) , chuveiro quente e uma cama king size só pra mim! Definitivamente eu preciso de muito pouco para ser feliz! E me orgulho disso. Uma câmera, um corpo saudável para correr atrás e pronto. Resumo da minha felicidade.

Rapidamente desenrolei com um haitiano, administrador do hostel, deixei minhas coisas, troquei de roupa e parti para a rua. O que eu mais queria sentir era aquela tal liberdade que tanto falei durante todo este post, e coisa que mais prezo na vida (deu pra perceber, né?!). Vento no rosto, sorriso de ponta a ponta a ponta e acho que a alegria interna reflete diretamente no exterior. Cer-te-za que as pessoas em volta, dezenas de desconhecidos, percebiam. Que povo gentil, educado, solidário! Não tenho absolutamente nenhum ponto negativo para falar de todos os que passaram por mim em minha estadia. E lá fui eu, perdida no mundo, com minha câmera no pescoço, sem medo de ser feliz, dando ‘boa-noite!’ aos homeless, bêbados e quem quer mais que cruzasse meu caminho.

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Meia-noite. Me vi sozinha com meus pensamentos no meio da cidade, acompanhada somente de minha câmera e alguns poucos dólares no bolso. E o melhor, sem medo. Fotografava tudo o que me chamava atenção, percebi coisas que em um dia comum poderiam passar batidas. Já cansada, entrei e sentei em um restaurante onde fui muito bem atendida, sem ser assediada por ser mulher, sem ser vista como um bicho à caça (de macho) em  um final de semana à noite. Tomei minha cerveja com uma bela refeição e cataploft, voltei para o lugar que escolhi para passar a noite e caí na cama. Na verdade, desconfio que entrei em coma, tamanha exaustão, adrenalina e alívio em ter um cobertor quentinho para me aquecer. Acordei ao amanhecer do dia na mesma posição que eu havia deitado. Cama irretocável. É. Realmente eu precisava daquela noite de sono, com celular desligado, e todo aquele silêncio soando como música aos meus ouvidos.

Acordei com outro gás, muita energia, e para não perder tempo deixei de lado um café da manhã oferecido e fui tomando um ‘Starbucks’ caminhando pela rua mesmo. Ainda sem saber aonde ir, saí andando, sem destino. Até os sinos de uma praça de chamarem a atenção. Era uma igreja em frente a uma praça com um gramado gigante. Haviam velhinhos fofos papeando nos bancos. Eu recebia e doava sorrisos. Ora largos, ora tímidos. Ao lado deles, mais homeless (moradores de rua, vulgo, mendigos) também batendo papo e conversando entre si. Haviam famílias, crianças correndo, pais com bebês de colo, idosos se exercitando, e um lindo sol chegando. A paz estava ali, na minha frente. Fiquei observando. O exercício de somente olhar, sem interferir em nada, foi fundamental no meu processo de crescimento interior. Eu não sabia que horas eram, e não me preocupava com isso. Continuei seguindo meu coração. E fotografando. E respirando como eu há tempos não fazia. Na verdade, acho que eu já até havia esquecido como era respirar de verdade. Reaprendi. E enquanto caminhava, ainda em destino, fui praticando este exercício. Inspira. Expira. Por um momento parecia até que dava uma “onda”. Mas era só felicidade!

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De repente vi aqueles transportes de 2 andares, próprios para turistas e desejei estar nele. Parei um ônibus qualquer para pedir informação em como chegar ao ponto de partida, e o motorista gentilmente me convidou a subir pois me levaria lá. Mas uma vez sem ser assediada, ou me sentindo julgada pelo tamanho do meu short, que diga-se de passagem, me deixava muito confortável, sem me sentir um afronta a sociedade. Conversa cordial e respeitosa. Eu me sentia bem, me sentia segura. E isso foi essencial para que tudo continuasse transcorrendo bem.

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Gosto de conhecer o diferente, novas culturas, e continuei a observar. Pessoas, famílias, turistas, moradores locais, estilo de vida… E fiz uma constatação. Seja onde eu estiver no mundo, eu atraio pessoas que gostam de contar causos, desabafos. Não me perguntem porquê, eu realmente não sei, já que não sou muito adepta a esse tipo de abordagem. Mas bati altos papos com o vendedor de floricultura, um senhorzinho chinês. Com o caixa da farmácia, que logo me perguntou se sou brasileira, pois ele dizia saber “ler os brasileiros”. Com o segurança da Disney Store, onde entrei por curiosidade para fazer uns clicks para meus filhos. Com uma velhinha fofa que se aproximou apenas para dizer: “You are so beautiful!” enquanto eu observava as frutas em uma banca de feira. Até mesmo um brasileiro morador da Califórnia há 10 anos desabafou sobre a saudade de seu país, sobre sua mãe doente, e claro- sobre o PT. Risos eternos!

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A cereja do bolo foi atravessar a Golden Gate em meio a densa neblina, literalmente, de cara! Cabelos ao vento, pq descabelar faz bem! Quase tendo uma hipotermia pela mudança brusca de temperatura, mas com uma alegria inabalável. Com um fone de ouvido conectado ao banco, eu ouvia do guia turístico toda a história da cidade, e ao mesmo tempo fazendo dezenas de clicks de toda aquela imensidão cultural a minha volta.

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Reprodução Instagram: @marihartfotografia
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Eu já conhecia São Francisco, em uma viagem feita ano passado. Mas de outra forma, em outro contexto, com outra visão. E isso me levou a escrever algumas considerações sobre esta cidade tão encantadora e fascinante!

– Quantas flores! Muitas! De diversos tipos, cores e texturas. Qta beleza natural!

– É a capital dos orgânicos. A oferta de frutas, legumes, verduras é gigantesca, por todos os cantos.

– É uma cidade mega populosa, com uma diversidade étnica muito grande. Referência de movimentos gays e hippies, porém, todos iguais.

– Não importa o clima. Faça chuva, faça sol, sempre haverão pessoas se exercitando. Seja surfando, correndo, pedalando, fazendo yoga a céu aberto. Confesso invejar a disposição dos locais!

– A noite é mega badalada! Ao contrário do RJ em que lugares fecham cedo e, dias de semana, em São Francisco me parece que a noite é uma criança. Mas esta não é minha praia, então, sorry, esta eu passo! Talvez em uma outra vida.

– O contraste das arquiteturas tb me chamaram bastante atenção. Uma mistura moderna com um estilo vitoriano, lado a lado em perfeita harmonia.

– Dá para sentir o cheiro de cultura no ar! Música, fotografia, cinema… em pleno domingo as bibliotecas públicas ficam lotadas de famílias com crianças!

– Ladeiras, Muitas ladeiras! Por todos os lados, o tempo todo!

– As pessoas não estão nem aí uma para as outras no sentido de reparar em roupa, cabelo, postura, comportamento, ou o que quer que seja. Cada um é o que é e ponto.

– O povo americano tem pencas de filhos! Invejinha mode on.

– Não posso deixar de citar a acessibilidade a cadeirantes e pessoas com dificuldades de locomoção. É muito comum ver idosos sozinhos nas ruas com seus andadores, bengalas, cadeiras elétricas, exercendo livremente seu genuíno direito de ir e vir.

Se eu pudesse definir em uma só palavra, eu diria: singular. 

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Em uma de minhas andanças encontrei uma feira de artes, e de longe o que me chamou atenção foi uma imagem que fala muito sobre mim. Fui até ela com os olhos brilhando! Quem vive no meio de partos e humanização, sabe bem o que ela representa. Acredito muito nos sinais ocultos que a vida nos dá, e precisamos estar atentos para percebê-los. E encontrar esta arte, foi muito significante para minha viagem, meu caminho, e minha história. Tanto que na volta ao Brasil, virou uma enorme tatuagem em minhas costas. A fórmula química da ocitocina! Entre outras tantas frases e dizeres maravilhosos, impressos em madeira rústica.

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Era tanta novidade, tanta coisa maravilhosa para absorver, que eu esquecia até mesmo de me alimentar! Acredito que eu estava me alimentado de amor, de vontade de viver, de fotografia, de alegria em estar solta no mundo. Há muito mais em São Francisco. Os bondinhos, Chinatown, O Emarcadero, Alcatraz, a famosa Lombard Street. Depois de mais uma noite de descobertas, uma bagagem que levarei para sempre dentro de mim que não caberia apenas em um post, estive em contato com uma amiga brasileira em Boston, e ela disse: “Mari, vem pra cá que tem um programa pra gente na sexta-feira!” Opa! Não falei que precisamos estar atentos aos sinais?! E lá fui eu na manhã seguinte, para o próximo destino: Massachusetts’! Mas enquanto o próximo post não vem, deixo mais algumas imagens desta cidade que conquistou meu coração!

“If you’re going to San Francisco

Be sure to wear some flowers in your hair

If you’re going to San Francisco

You’re gonna meet some gentle people there

For those who come to San Francisco

Summer time will be a love-in there

In the streets of San Francisco

Gentle people with flowers in their hair…”

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Moça, vc me representa! =)

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Selfie!

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