“Bienvenidos a Miami!”

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Minha idéia inicial, era pegar um trem de Boston para conhecer Nova York (vide post anterior), talvez passar uma tarde no Central Park e voltar. Mais barato que passagem de avião, eu iria curtindo a paisagem e meus pensamentos. Mas tive uma crise existencial. Caí em prantos no telefone com saudade do marido, pq sou dessas. Sim, gente! 11 anos depois, o coração bate forte, sinto frio na barriga e tenho nele meu porto seguro. Apesar dele me apoiar em tudo, deixei para fazer esta viagem em uma outra oportunidade, a dois. Como uma lua de mel que nunca tivemos. Depois de recomposta de minha crise de amor, resolvi ir conhecer Miami, onde minha sogra que é cidadã americana vive há 20 anos.

Já estávamos planejando uma viagem em breve com a família inteira, então já que eu estava logo ali mais pro Norte,  pq não dar um pulinho na Florida e ver tudo com meus próprios olhos!? Saí cedo de Massachussets, manhã fria e chuvosa. Em pouco mais de 3 horas eu estaria no extremo oposto. Sol! MUITO sol! Mas a natureza é tão perfeita, que em certos momentos cai uma chuvinha fina e fraca só para dar uma refrescada. E assim fui recebida em Miami! Céu azul, se revezando com nuvens densas que vez ou outra descarregavam.

Que atire o primeiro mouse quem nunca teve algum preconceito contra algum lugar no mundo! Preconceito: conceito pré-adquirido. Opinião prematuramente concebida. Idéia formada antecipadamente. Pois era este meu sentimento sobre Miami. Mas a vida é uma eterna desconstrução. E estou sempre disposta e aberta a mudar de opinião. Foi preciso estar lá para mudar completamente minha visão sobre aquela cidade. Definitivamente Miami é o Rio de Janeiro que deu certo! Obviamente tem seus problemas, não é o lugar mais civilizado e nem mais seguro do mundo. Mas a energia é incrível!

Do aeroporto, fui para a casa da sogra, onde rapidamente troquei minhas botas por havaianas. À caminho de seu dia de trabalho, ela me deixou na “Ocean Drive”, uma das avenidas mais famosas à beira mar, em South Beach. Mas teve um detalhe. Ao descer correndo do carro, deixei meu celular cair sem perceber. Passei o dia inteiro desconectada, o que seria maravilhoso se meu melhor amigo de viagem não fosse o “google maps” que me guiava onde quer que eu fosse. Depois de um bom tempo contemplando o mar, tentando entender aquele céu em camadas e aquela areia tão lisa, saí andando sem destino. Afinal, esse era o propósito. Não ter compromisso.

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Em pouco tempo me senti carbonizada! Que calor! Um caldeirão! Meus ombros já ardiam queimados! E eu, carioca da gema, achava que o RJ era quente demais! Que inocente! Eu não sabia de nada mesmo. Confesso que vez ou outra eu entrava em algumas lojas na ‘Lincoln Road’, um dos maiores centros comerciais e céu aberto, para pegar carona no ar condicionado. E não era só a temperatura quente, as pessoas tb! Quanta gente bonita! E quando falo em beleza, é sobre alto astral. Pessoas claramente felizes, animadas, com brilho! Mulheres exuberantes! E o que muito me chamou a atenção, foram os meios de transporte. Bicicleta pelo visto já era uma coisa bem comum de se ver por todo os EUA. Mas ver skates e patins, como meio de locomoção e não só de lazer, é simplesmente o máximo! Haviam homens de terno e gravata andando de skate, provavelmente indo para o trabalho.

Depois de caminhar bastante, sem rumo, fotografando a vida passando, entrei para almoçar em uma hamburgueria vegana. Não como carne há quase 6 anos, e o escolhido foi um fast-food mexicano. Aliás, a cultura latina é fortíssima por todas as partes! Fiquei completamente apaixonada pela “Espanhola Way”, com referência fortíssima de Frida Khalo. Acho que por isso me senti tão em casa. Latinos tomam conta da cidade, são acolhedores, ‘calientes’, extremamente simpáticos. Falam alto, gesticulam, sorriem muito! Depois, ainda perdida, entrei em um estúdio de tatuagem onde fui atendida por um uruguaio. Lembram lá no início do primeiro post ainda em São Francisco-Califórnia, qdo falei que esta viagem para mim significava “resiliência”!? Então foi a palavra que decidi tatuar. E no braço, símbolo da força. Eu queria uma lembrança marcante desta experiência de ter viajado sozinha, além da fotografia. E como tattoo lover que sou, nem pensei duas vezes. Eis o resultado desta brincadeira!

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Reprodução Instagram: @marihartfotografia
Reprodução Instagram: @marihartfotografia

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Uma coisa bem interessante é que em Miami praticamente não se fala inglês. A língua oficial parece ser mesmo o espanhol, o que é até geograficamente compreensível. Quase não se vê americano nato! E embora possa parecer, eu não estou exagerando. Algumas semanas depois voltei com minha família, vivi lá por 45 dias e pude constatar no dia a dia. Se eu tinha a intenção de treinar meu inglês, tive que esquecer nesses últimos dias da minha viagem. Mas me despertou uma vontade muito grande de começar a estudar espanhol. Passando por uma loja de produtos de beleza, um latino me chamou para experimentar um produto em meu cabelo. Como cara de pau que sou, sentei e fui embelezada por 1 hora como cobaia, saindo de lá com cachos lindos, leves e sedosos sem pagar nada! Quem mandou oferecer!? Aceitei, ué! E ainda rendeu ótimas risadas com nosso portunhol!

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As horas passando, eu literalmente perdida em uma cidade onde eu jamais havia pisado antes, sem celular, sem o telefone da sogra. Por sorte, eu tinha um pequeno papel em minha carteira com o endereço dela escrito. A essa altura do campeonato, eu nem imaginava que toda família já estava mobilizada preocupados em como eu me viraria. Mas quem tem boca, vai a Roma, já dizia minha avó! Ou a Miami, nesse caso. Sem me fazer de rogada saí perguntando. Peguei ônibus, segui dicas, o empenho das pessoas em ajudar é impressionante, todos muito solícitos! Eu olhava em minha câmera pelas fotos tiradas os lugares por onde eu havia passado, e tcharan! Antes do anoitecer eu já estava deitada em berço esplêndido! Não, péra! Dormi em um saco de acampamento, mas tão cansada que nem senti! Mais uma vez, parecia que eu tinha entrado em coma!

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Motorista do ônibus mulher!

Todos já devem ter ouvido falar que a Florida é o paraíso das compras, onde há um mundo de outlets. Eu que me gabava de mal ter bagagem de mão em 10 dias de viagem, que tinha um discurso imenso contra consumismo, me rendi! Fui levada para o mal caminho, próximo dali, em Fort-Lauderdale. São coisas muito, mas muito baratas. Mais do que vcs pensam. É possível comprar uma camiseta de marca famosa (eu não ligo pra isso, de verdade, mas era só o que tinha!) por $3, $5 dólares. Tênis e sapatos a $15, moletons a $10/$12. Soutien Victoria Secrets por $7. Quase não comprei para mim, mas voltei com guarda roupa renovado para as crianças. E como haviam brasileiros no shopping! Muitos, por todo canto, com malas abarrotadas de compras. Eu nunca entendi muito bem a matemática de gestantes por exemplo que iam para Miami fazer enxoval de bebê. Agora entendo. Vale muito a pena, mesmo convertendo a moeda há pouco mais de R$3,00 como estava na época.

Miami é conhecida além de pelas compras, praias, paisagismo impecável, mas elegi meu lugar preferido longe disso tudo. Conheci o “Wynwood District” onde fica o “The Wynwood Walls”, lugar que fiquei simplesmente enlouquecida com tanta arte decór, formas, cores, mensagens… fiquei hipnotizada visualmente! Que charme! Exala cultura! Impossível não imaginar como cenário de ensaios fotográficos ali. Mas uma imagem especificamente me fez ficar por um bom tempo apreciando, encantada! Identificação imediata com minha verdade, trabalho e vida. Quem me conhece sabe logo qual é das fotos abaixo!

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Tb fui à “Little Havana”, onde vive a maior comunidade cubana do país. Parecia um mundo paralelo, com galerias de arte, lojas com produtos típicos, restaurantes, longe da atmosfera de glamour e ostentação que envolve Miami. Realmente um pedacinho de Cuba nos EUA. Fora de lá, tb passei pelo Museu do Sexo, no monumento ao Holocausto (que energia angustiante!) e pelo Jardim Botânico. O tempo já estava ficando curto, então me limitei a de tudo um pouco, sem me aprofundar muito em nada.

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Algumas considerações sobre Miami:

– Há trânsito. Nem de longe como RJ e grandes metrópoles brasileiras. Mas é chatinho.

– As pessoas veneram Romero Britto.

– Apesar da Florida ser oficialmente um estado conservador, as pessoas são bem liberais e Miami é a capital americana da pornografia.

– É considerada uma das cidades mais limpas dos EUA.

– Há muitos empreendimentos imobiliários gigantescos que só crescem a cada ano. Grande parte deles comprados por investidores brasileiros.

– Miami é conhecida por sua noite bem badalada. Porém para minha grande surpresa, a maioria dos lugares fecham cedo. Enquanto a noite no RJ começa depois da meia-noite, por volta de 1h da madrugada já tem muitos bares e restaurantes fechados em Miami.

– Embora seja uma cidade praiana, as pessoas se produzem muito, tanto homens, qto mulheres que estão sempre com saltos altíssimos, brilhos e maquiagem carregada, a qualquer hora do dia.

– É completamente ‘petfriendly’. Animais são bem vindos em todos os lugares. Dentro de lojas, shoppings, farmácias e até supermercados…

– Algumas leis da Florida são bem diferentes e mais flexíveis do que no Brasil. Por exemplo, pode-se falar ao celular enquanto dirige. Só não pode digitar texto. Pode-se beber até 3 latas de cerveja e dirigir.

Entre praias, fotos, caminhadas, papos com desconhecidos- sim, pq as pessoas me param DO NADA para puxar assunto, por qualquer bobagem! Já contei isso né!? Morro de rir!  Terminei minha última noite comendo frutos do mar em um restaurante típico cubano em boa cia. Como não falar de comida quando se viaja!? Descobrir novos sabores é o que há de melhor! E a qualidade e preço são realmente sedutores. E por falar em comida, outra curiosidade é que o tradicional café da manhã americano, aquele servido com panquecas e outras gordices, é servido em qualquer hora do dia, em muitos lugares especializados até mesmo 24hrs! Como o IHop por exemplo, onde fiz minha última refeição sozinha antes de pegar o avião de volta para o Brasil. É de babar!

Reproducão Instagram: @marihartfotografia
Reproducão Instagram: @marihartfotografia

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Encerrando este ciclo de descobertas exteriores e interiores, reflexões, autoconhecimento, era hora de voltar para casa. Para os meus amores, minha vida, meu trabalho, meus filhos, minha (louca) rotina. Mas renovada! Com um profundo suspiro de fôlego que eu precisava e merecia. Sempre muito grata ao universo, principalmente por me dar coragem de me jogar nas oportunidades, sem olhar para trás. E como minha vida é sempre cheia de emoção, depois de 9 horas mega cansativas de viagem no avião, cheguei em Campinas-SP, para uma escala de algumas horas, para só então depois partir para o Rio de Janeiro. Assim que eu liguei o celular, havia um trabalho de parto ativo, de uma pessoa muito querida que havíamos combinado que eu iria fotografar, porém a DPP (data provável do parto) cairia justamente durante meus dias fora.

Pois quando a gente está feliz, bem consigo mesma, o universo conspira a favor! A neném parecia que havia me esperado, decidindo nascer após 42 semanas de gestação, o que é considerado pós-termo. Mas e as horas que eu ainda precisava esperar para meu vôo até o RJ!? Não iria dar tempo! Cotei preço de passagem, e os amigos em comum na torcida, se prontificaram a fazer vaquinha para pagar! Mas nem foi preciso! Ao contar sobre a situação com a moça da cia aérea, ela falou: “Que legal! A esposa do meu supervisor tb teve um parto em casa, aqui em Campinas, com uma parteira famosa que apareceu em um filme!” Logo imaginei que se tratava de Ana Cris Duarte, musa mór das ativistas no parto natural, que apareceu lindamente no filme “O Renascimento do Parto”, que tive o grande prazer de fotografar a pré-estréia em 2013 no RJ! Sincronicidade!

E à serviço do parto humanizado, depois de diversas tentativas, ligações e pedidos, a funcionária conseguiu me recolocar em outro vôo onde haviam lugares sobrando, que sairia em poucos minutos! Vontade de beijar os pés da moça! Quanto empenho e sororidade! Fui literalmente correndo pelo aeroporto para conseguir pegar o vôo, me sentindo em cena de filme! E “com os braços abertos sob a Guanabara”, lá estava meu marido e um de meus filhos, Pedro, me esperando com sorriso no rosto, muita saudade, mas compreensivos com a linda missão que me aguardava naquele momento. Fui direto para a casa de uma mulher que em algumas horas se tornaria uma super mãe, guerreira, leoa, que pariu lindamente sua cria, com muita coragem e determinação! E eu consegui registrar cada detalhe. Definitivamente, esta foi a parte mais linda de toda essa aventura que eu me meti e que mostrarei em fotos no próximo post. O parto domiciliar da pequena Eva! Pronto! Felicidade completa!

“A felicidade não é uma estação em que você chega, mas uma maneira de viajar.” 

(Margaret Lee Runbeck)

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Genial! “Escolha seu lado” Polícia, ou táxi.
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Praia acessível!

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Me identifiquei!
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É sempre bom verificar embaixo do carro antes de dar partida! =)

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Pet dentro da loja da Apple!
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Quando as coisas funcionam. Vc realmente pode levar sua bicicleta no transporte público!
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Monumento ao Holocausto

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Metromover. De graça!

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