Costumo dizer que comecei fazendo o caminho contrário da maioria dos profissionais da fotografia. Quando eu brincava por aí com uma câmera amadora, minhas amigas diziam: “Vc tem que ser fotógrafa!”. Foi a partir dos outros que começou a me despertar o desejo, e deu aquele click em minha mente: “Pq não!?”. Em festas, encontros, passeios, eu era sempre a responsável pelos registros, mesmo com uma Sony H-50 em mãos. E foram elas que me estimularam a começar a estudar e enfim procurar meu primeiro curso. Não posso deixar de citar tb meu marido, o maior incentivador!
E então, quando me profissionalizei, elas foram minhas primeiras clientes. E desde hoje meu trabalho é assim, propaganda no “boca a boca”. Uma indica pra outra, que indico pro outro, e por aí vai… Começaram a surgir contato de pessoas que eu não conhecia, clientes “de verdade”. Falo “de verdade” pq quando estamos entre amigos, ficamos mais à vontade, tranquilas, a vibe é diferente. E quando outros começaram a aparecer, veio uma grande questão: Como dividir o pessoal do profissional?!
Sou uma pessoa com pensamentos e opiniões que nadam contra a maré da maioria. Sou ativista do parto natural humanizado, enquanto no Brasil 90% das mulheres da rede privada de saúde, fazem cesariana. Sou atéia, em um país com pouca tolerância religiosa. Sigo uma linha de criação diferente e alternativa com os filhos, qdo levantamos temas como palmadas, vacinas, rotina, babás, alimentação, etc… E qdo um cliente te adiciona em uma rede social, é uma sinuca de bico! Ele terá acesso à Mari mãe/mulher e não somente à profissional. E uma coisa pode interferir a outra. Por isso sempre busquei separar as duas coisas. Mas nos tempos tecnológicos hoje em dia, é praticamente impossível! E as coisas voltam a se misturar.
Confesso não ser fácil para mim ir fotografar uma festa de 1 ano, com o aniversariante comendo batata-frita, guaraná e coxinha frita. Me dói a alma. Mas procuro ser o mais profissional possível e esquecer de minhas convicções. Quando vou fotografar uma gestante, e ela me diz: “Meu filho vai nascer dia ‘x’, vc pode fotografar!?” É preciso tato para explicar que não fotografo cesarianas eletivas. E quando me pedem orçamentos para ensaio “Smash the Cake”. Sutilmente sugiro um “Smash the Fruit” pois vai contra minha verdade dar açúcar puro para um bebê.
Essa separação da mãe e mulher que sou, da profissional, é um desafio. Para que do outro lado ninguém se sinta diminuída ou discriminada, mas ao mesmo tempo não me permito ir contra minha verdade. E é aí que precisamos ter jogo de cintura, cuidado com as palavras e manter uma postura profissional. Felizmente, muitas vezes a identificação é tão grande, os dois lados se encontram, que há clientes que viram amigas. E esse é um dos grandes sabores da profissão! Não ter só amigas-clientes, mas clientes que viraram amigas.
No final das contas, concluo que as pessoas são diferentes e como tal, há uma palavra que é a chave de tudo: respeito. Quando há respeito sobre as escolhas de cada um, há paz, harmonia e os dois lados- o profissional e pessoal, podem andar juntos lado a lado. Cada um, é um universo e se manter neutro às questões alheias, pode ser o segredo do sucesso.
“Você é aquilo que ninguém vê. Uma coleção de histórias, estórias, memórias, dores, delícias, pecados, bondades, tragédias, sucessos, sentimentos e pensamentos. Se definir é se limitar. Você é um eterno parênteses em aberto, enquanto sua eternidade durar.”