“Bienvenidos a Miami!”

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Minha idéia inicial, era pegar um trem de Boston para conhecer Nova York (vide post anterior), talvez passar uma tarde no Central Park e voltar. Mais barato que passagem de avião, eu iria curtindo a paisagem e meus pensamentos. Mas tive uma crise existencial. Caí em prantos no telefone com saudade do marido, pq sou dessas. Sim, gente! 11 anos depois, o coração bate forte, sinto frio na barriga e tenho nele meu porto seguro. Apesar dele me apoiar em tudo, deixei para fazer esta viagem em uma outra oportunidade, a dois. Como uma lua de mel que nunca tivemos. Depois de recomposta de minha crise de amor, resolvi ir conhecer Miami, onde minha sogra que é cidadã americana vive há 20 anos.

Já estávamos planejando uma viagem em breve com a família inteira, então já que eu estava logo ali mais pro Norte,  pq não dar um pulinho na Florida e ver tudo com meus próprios olhos!? Saí cedo de Massachussets, manhã fria e chuvosa. Em pouco mais de 3 horas eu estaria no extremo oposto. Sol! MUITO sol! Mas a natureza é tão perfeita, que em certos momentos cai uma chuvinha fina e fraca só para dar uma refrescada. E assim fui recebida em Miami! Céu azul, se revezando com nuvens densas que vez ou outra descarregavam.

Que atire o primeiro mouse quem nunca teve algum preconceito contra algum lugar no mundo! Preconceito: conceito pré-adquirido. Opinião prematuramente concebida. Idéia formada antecipadamente. Pois era este meu sentimento sobre Miami. Mas a vida é uma eterna desconstrução. E estou sempre disposta e aberta a mudar de opinião. Foi preciso estar lá para mudar completamente minha visão sobre aquela cidade. Definitivamente Miami é o Rio de Janeiro que deu certo! Obviamente tem seus problemas, não é o lugar mais civilizado e nem mais seguro do mundo. Mas a energia é incrível!

Do aeroporto, fui para a casa da sogra, onde rapidamente troquei minhas botas por havaianas. À caminho de seu dia de trabalho, ela me deixou na “Ocean Drive”, uma das avenidas mais famosas à beira mar, em South Beach. Mas teve um detalhe. Ao descer correndo do carro, deixei meu celular cair sem perceber. Passei o dia inteiro desconectada, o que seria maravilhoso se meu melhor amigo de viagem não fosse o “google maps” que me guiava onde quer que eu fosse. Depois de um bom tempo contemplando o mar, tentando entender aquele céu em camadas e aquela areia tão lisa, saí andando sem destino. Afinal, esse era o propósito. Não ter compromisso.

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Em pouco tempo me senti carbonizada! Que calor! Um caldeirão! Meus ombros já ardiam queimados! E eu, carioca da gema, achava que o RJ era quente demais! Que inocente! Eu não sabia de nada mesmo. Confesso que vez ou outra eu entrava em algumas lojas na ‘Lincoln Road’, um dos maiores centros comerciais e céu aberto, para pegar carona no ar condicionado. E não era só a temperatura quente, as pessoas tb! Quanta gente bonita! E quando falo em beleza, é sobre alto astral. Pessoas claramente felizes, animadas, com brilho! Mulheres exuberantes! E o que muito me chamou a atenção, foram os meios de transporte. Bicicleta pelo visto já era uma coisa bem comum de se ver por todo os EUA. Mas ver skates e patins, como meio de locomoção e não só de lazer, é simplesmente o máximo! Haviam homens de terno e gravata andando de skate, provavelmente indo para o trabalho.

Depois de caminhar bastante, sem rumo, fotografando a vida passando, entrei para almoçar em uma hamburgueria vegana. Não como carne há quase 6 anos, e o escolhido foi um fast-food mexicano. Aliás, a cultura latina é fortíssima por todas as partes! Fiquei completamente apaixonada pela “Espanhola Way”, com referência fortíssima de Frida Khalo. Acho que por isso me senti tão em casa. Latinos tomam conta da cidade, são acolhedores, ‘calientes’, extremamente simpáticos. Falam alto, gesticulam, sorriem muito! Depois, ainda perdida, entrei em um estúdio de tatuagem onde fui atendida por um uruguaio. Lembram lá no início do primeiro post ainda em São Francisco-Califórnia, qdo falei que esta viagem para mim significava “resiliência”!? Então foi a palavra que decidi tatuar. E no braço, símbolo da força. Eu queria uma lembrança marcante desta experiência de ter viajado sozinha, além da fotografia. E como tattoo lover que sou, nem pensei duas vezes. Eis o resultado desta brincadeira!

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Reprodução Instagram: @marihartfotografia
Reprodução Instagram: @marihartfotografia

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Uma coisa bem interessante é que em Miami praticamente não se fala inglês. A língua oficial parece ser mesmo o espanhol, o que é até geograficamente compreensível. Quase não se vê americano nato! E embora possa parecer, eu não estou exagerando. Algumas semanas depois voltei com minha família, vivi lá por 45 dias e pude constatar no dia a dia. Se eu tinha a intenção de treinar meu inglês, tive que esquecer nesses últimos dias da minha viagem. Mas me despertou uma vontade muito grande de começar a estudar espanhol. Passando por uma loja de produtos de beleza, um latino me chamou para experimentar um produto em meu cabelo. Como cara de pau que sou, sentei e fui embelezada por 1 hora como cobaia, saindo de lá com cachos lindos, leves e sedosos sem pagar nada! Quem mandou oferecer!? Aceitei, ué! E ainda rendeu ótimas risadas com nosso portunhol!

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As horas passando, eu literalmente perdida em uma cidade onde eu jamais havia pisado antes, sem celular, sem o telefone da sogra. Por sorte, eu tinha um pequeno papel em minha carteira com o endereço dela escrito. A essa altura do campeonato, eu nem imaginava que toda família já estava mobilizada preocupados em como eu me viraria. Mas quem tem boca, vai a Roma, já dizia minha avó! Ou a Miami, nesse caso. Sem me fazer de rogada saí perguntando. Peguei ônibus, segui dicas, o empenho das pessoas em ajudar é impressionante, todos muito solícitos! Eu olhava em minha câmera pelas fotos tiradas os lugares por onde eu havia passado, e tcharan! Antes do anoitecer eu já estava deitada em berço esplêndido! Não, péra! Dormi em um saco de acampamento, mas tão cansada que nem senti! Mais uma vez, parecia que eu tinha entrado em coma!

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Motorista do ônibus mulher!

Todos já devem ter ouvido falar que a Florida é o paraíso das compras, onde há um mundo de outlets. Eu que me gabava de mal ter bagagem de mão em 10 dias de viagem, que tinha um discurso imenso contra consumismo, me rendi! Fui levada para o mal caminho, próximo dali, em Fort-Lauderdale. São coisas muito, mas muito baratas. Mais do que vcs pensam. É possível comprar uma camiseta de marca famosa (eu não ligo pra isso, de verdade, mas era só o que tinha!) por $3, $5 dólares. Tênis e sapatos a $15, moletons a $10/$12. Soutien Victoria Secrets por $7. Quase não comprei para mim, mas voltei com guarda roupa renovado para as crianças. E como haviam brasileiros no shopping! Muitos, por todo canto, com malas abarrotadas de compras. Eu nunca entendi muito bem a matemática de gestantes por exemplo que iam para Miami fazer enxoval de bebê. Agora entendo. Vale muito a pena, mesmo convertendo a moeda há pouco mais de R$3,00 como estava na época.

Miami é conhecida além de pelas compras, praias, paisagismo impecável, mas elegi meu lugar preferido longe disso tudo. Conheci o “Wynwood District” onde fica o “The Wynwood Walls”, lugar que fiquei simplesmente enlouquecida com tanta arte decór, formas, cores, mensagens… fiquei hipnotizada visualmente! Que charme! Exala cultura! Impossível não imaginar como cenário de ensaios fotográficos ali. Mas uma imagem especificamente me fez ficar por um bom tempo apreciando, encantada! Identificação imediata com minha verdade, trabalho e vida. Quem me conhece sabe logo qual é das fotos abaixo!

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Tb fui à “Little Havana”, onde vive a maior comunidade cubana do país. Parecia um mundo paralelo, com galerias de arte, lojas com produtos típicos, restaurantes, longe da atmosfera de glamour e ostentação que envolve Miami. Realmente um pedacinho de Cuba nos EUA. Fora de lá, tb passei pelo Museu do Sexo, no monumento ao Holocausto (que energia angustiante!) e pelo Jardim Botânico. O tempo já estava ficando curto, então me limitei a de tudo um pouco, sem me aprofundar muito em nada.

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Algumas considerações sobre Miami:

– Há trânsito. Nem de longe como RJ e grandes metrópoles brasileiras. Mas é chatinho.

– As pessoas veneram Romero Britto.

– Apesar da Florida ser oficialmente um estado conservador, as pessoas são bem liberais e Miami é a capital americana da pornografia.

– É considerada uma das cidades mais limpas dos EUA.

– Há muitos empreendimentos imobiliários gigantescos que só crescem a cada ano. Grande parte deles comprados por investidores brasileiros.

– Miami é conhecida por sua noite bem badalada. Porém para minha grande surpresa, a maioria dos lugares fecham cedo. Enquanto a noite no RJ começa depois da meia-noite, por volta de 1h da madrugada já tem muitos bares e restaurantes fechados em Miami.

– Embora seja uma cidade praiana, as pessoas se produzem muito, tanto homens, qto mulheres que estão sempre com saltos altíssimos, brilhos e maquiagem carregada, a qualquer hora do dia.

– É completamente ‘petfriendly’. Animais são bem vindos em todos os lugares. Dentro de lojas, shoppings, farmácias e até supermercados…

– Algumas leis da Florida são bem diferentes e mais flexíveis do que no Brasil. Por exemplo, pode-se falar ao celular enquanto dirige. Só não pode digitar texto. Pode-se beber até 3 latas de cerveja e dirigir.

Entre praias, fotos, caminhadas, papos com desconhecidos- sim, pq as pessoas me param DO NADA para puxar assunto, por qualquer bobagem! Já contei isso né!? Morro de rir!  Terminei minha última noite comendo frutos do mar em um restaurante típico cubano em boa cia. Como não falar de comida quando se viaja!? Descobrir novos sabores é o que há de melhor! E a qualidade e preço são realmente sedutores. E por falar em comida, outra curiosidade é que o tradicional café da manhã americano, aquele servido com panquecas e outras gordices, é servido em qualquer hora do dia, em muitos lugares especializados até mesmo 24hrs! Como o IHop por exemplo, onde fiz minha última refeição sozinha antes de pegar o avião de volta para o Brasil. É de babar!

Reproducão Instagram: @marihartfotografia
Reproducão Instagram: @marihartfotografia

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Encerrando este ciclo de descobertas exteriores e interiores, reflexões, autoconhecimento, era hora de voltar para casa. Para os meus amores, minha vida, meu trabalho, meus filhos, minha (louca) rotina. Mas renovada! Com um profundo suspiro de fôlego que eu precisava e merecia. Sempre muito grata ao universo, principalmente por me dar coragem de me jogar nas oportunidades, sem olhar para trás. E como minha vida é sempre cheia de emoção, depois de 9 horas mega cansativas de viagem no avião, cheguei em Campinas-SP, para uma escala de algumas horas, para só então depois partir para o Rio de Janeiro. Assim que eu liguei o celular, havia um trabalho de parto ativo, de uma pessoa muito querida que havíamos combinado que eu iria fotografar, porém a DPP (data provável do parto) cairia justamente durante meus dias fora.

Pois quando a gente está feliz, bem consigo mesma, o universo conspira a favor! A neném parecia que havia me esperado, decidindo nascer após 42 semanas de gestação, o que é considerado pós-termo. Mas e as horas que eu ainda precisava esperar para meu vôo até o RJ!? Não iria dar tempo! Cotei preço de passagem, e os amigos em comum na torcida, se prontificaram a fazer vaquinha para pagar! Mas nem foi preciso! Ao contar sobre a situação com a moça da cia aérea, ela falou: “Que legal! A esposa do meu supervisor tb teve um parto em casa, aqui em Campinas, com uma parteira famosa que apareceu em um filme!” Logo imaginei que se tratava de Ana Cris Duarte, musa mór das ativistas no parto natural, que apareceu lindamente no filme “O Renascimento do Parto”, que tive o grande prazer de fotografar a pré-estréia em 2013 no RJ! Sincronicidade!

E à serviço do parto humanizado, depois de diversas tentativas, ligações e pedidos, a funcionária conseguiu me recolocar em outro vôo onde haviam lugares sobrando, que sairia em poucos minutos! Vontade de beijar os pés da moça! Quanto empenho e sororidade! Fui literalmente correndo pelo aeroporto para conseguir pegar o vôo, me sentindo em cena de filme! E “com os braços abertos sob a Guanabara”, lá estava meu marido e um de meus filhos, Pedro, me esperando com sorriso no rosto, muita saudade, mas compreensivos com a linda missão que me aguardava naquele momento. Fui direto para a casa de uma mulher que em algumas horas se tornaria uma super mãe, guerreira, leoa, que pariu lindamente sua cria, com muita coragem e determinação! E eu consegui registrar cada detalhe. Definitivamente, esta foi a parte mais linda de toda essa aventura que eu me meti e que mostrarei em fotos no próximo post. O parto domiciliar da pequena Eva! Pronto! Felicidade completa!

“A felicidade não é uma estação em que você chega, mas uma maneira de viajar.” 

(Margaret Lee Runbeck)

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Genial! “Escolha seu lado” Polícia, ou táxi.
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Praia acessível!

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Me identifiquei!
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É sempre bom verificar embaixo do carro antes de dar partida! =)

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Pet dentro da loja da Apple!
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Quando as coisas funcionam. Vc realmente pode levar sua bicicleta no transporte público!
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Monumento ao Holocausto

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Metromover. De graça!

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Oi, Boston!

“Coisa que gosto é poder partir, sem ter planos…”

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E então parti.  Combinei com o administrador do hostel, uma van para me levar até o aeroporto. E lá fui eu, toda prosa. No meio do caminho, ainda observando a cidade junto aos meus pensamentos, tive uma sensação de amputação. Estava faltando algo. De fato estava, meu amor, minha família, meus filhos. Mas confundi os sentimentos. O que faltava era nada mais, nada menos do que MINHA CÂMERA! Aqueles segundos do “estalo” que eu havia esquecido minha amiga-parceira-terapeuta-confidente em cima do balcão, pareciam uma eternidade! Pedi desesperadamente gentilmente que o motorista retornasse. E vcs sabem, na América time is money, então prometi pagar a mais pela corrida. Depois de bufar, meio contrariado, ele voltou. Mas antes disse que precisava pegar outro passageiro, ali próximo. Momentos de tensão. Outra eternidade. O tal passageiro era um brasileiro, de SP, tb fotógrafo! Enquanto não chegávamos, milhares de pensamentos passavam em minha mente. Eu já havia dado minha câmera por perdida. Já bolava estratégias de como comprar outra. Pensava na minha agenda lotada até início de agosto. Pensava no fim trágico de minha carreira, afinal, o que é uma fotógrafa sem sua câmera!? Um nada.

Entrei correndo e lá estava ela, no mesmo lugar onde eu havia deixado. Intocável, mesmo naquele entra e sai de um hostel barato de centro da cidade. A sensação de alívio é indescritível! E a alegria em saber que há um mundo bacana por aí, pois venhamos e convenhamos: e se fosse no Brasil!? Um objeto com valor na base de R$7.500,00, dando sopa!? Me dá calafrios só de imaginar. E que sirva de lição. Lugar de câmera fotográfica, é no pescoço! E ‘simbora seguir viagem! E de papo furado com o fotógrafo paulista, é claro! Nem lembro o nome dele para ser bem sincera. Mas a conversa foi basicamente sobre fotografia de evento, flash, ISO, edição. E adeus.

No aeroporto, eu para variar perdida como barata tonta, pedia informação com meu inglês de 7ª série. Não, 8ª série. Não, péra… Uma coisa interessante que pude observar nessas minhas andanças é que, onde quer que eu esteja, sempre tem um alguém que fala alguma palavra de português! Mais ou menos assim: “Where do you from?” “Brasil!” “Own, Brazil! Obrigado! Pão de queijo! Caipirinha!” Sério. Mas impossível não rir! Já embarcada, rumo a Boston, eu bem que tentava colocar minhas leituras em dia, e por isso levei meu ‘kindle’ a tira-colo. Há 1 ano tento terminar o livro “Longe da Árvore” de Solomon, mas ainda não é o momento. Me perco em meio aos pensamentos, lembranças e sacodes que ele me dá perante a vida. E neste momento, minha própria companhia já era o próprio sacode de realidade que eu precisava. Fica pra próxima.

Amanheceu! Oi Boston! Que dia lindo! E eu, tolinha!- preparada para o frio que me disseram que fazia lá. Mais uma vez aquela sensação de “para onde vou? esquerda ou direita?”,  somente com um endereço em mãos. Ônibus!? Trem!? Metrô!? Que fique claro, isso não é uma reclamação, mas uma observação. Gosto demais disso, foi o que busquei pra mim. Não saber o que vai acontecer nas próximas horas, me fascina! Fui de táxi. E até o destino final, casa de uma amiga recém chegada a Boston há poucos dias, fui absorvendo tudo a minha volta como de costume. Me senti um pouco em São Paulo. É só o que posso dizer sobre aquele momento.

A Perla tem um filho com paralisia cerebral, assim como meu Leo. Ambos da mesma idade. Após ser recebida com bom papo e um café fresco, pude pegar Gabriel no colo e assim, me sentir tb mais perto de meu filho. A saudade doía ainda mais! Estes dois dias e meio em Boston, me ensinaram muita coisa, mas principalmente me mostrou coisas que antes eu não conseguia enxergar. E é sobre isso que quero falar com todo carinho e respeito do mundo.

Há 8 anos escuto absurdos como “vc é especial”, “escolhida por deus”, “seu filho é uma dádiva”, “como vc é forte!”, “que guerreira vc é!”, “fortaleza de mãe!”. Agradeço profundamente a (boa) intenção, mas isso não é nada legal de escutar. Sempre bati na tecla de que se existe mesmo um deus,  e se sou tão especial assim, pq ele não me abençoaria com uma criança saudável?! A carga que se carrega diante dessas palavras, é muito grande. É como se fôssemos fortes o suficiente para aguentar sofrimentos que uma outra mãe qualquer não aguentaria e isso nos endeusa, o que é irreal. É como se não fosse permitido chorar, sofrer, se lamentar. Pq, né!?- somos as escolhidas/especiais/privilegiadas. Mas a verdade é que apenas não temos outra opção a não ser, sermos fortes. Pq filho é filho, com ou sem paralisia cerebral. Estas palavras, sempre vieram de pessoas “normais”, com filhos “típicos”, daqueles que se encaixam nos padrões que a sociedade exige. E ter passado este tempo com uma família parecida com a minha, me fez enxergar muita coisa de uma forma bem diferente. Consegui ver, o que as outras pessoas vêem em mim. Como elas me enxergam. Afinal, ali eu não era a mãe do Leo. Era somente a Mari.

Era inevitável olhar aquela mulher, cuidando bravamente de seu filho, sem pensar: “U-A-U!” Quanta admiração! Não somente pelo cuidado amoroso e tempo dedicado ao pequeno Biel. Mas pela facilidade e leveza com que ela parecia encarar tudo. Naturalmente. Como é de fato. Ou como deveria ser. Ao observar e acompanhar sua rotina, desde cuidados básicos de higiene, até a luta que é sair de casa com uma criança com severo comprometimento motor, passei a entender o que as outras pessoas sentiam em relação a mim e meu filho. E então, aquelas palavras que sempre ouvi, passaram a soar de forma diferente em meu coração. Não que eu agora concorde, não é isso. Mas agora eu compreendo. Pq de certa forma, eu me vi naquela mãe. Eu vi meu filho naquela criança. De fora. Sem estar vivendo. E assim, me senti mais forte, mais capaz, com vontade de bater no peito e dizer: “Sim, nós somos incríveis!” Não é pra qualquer um. E por isso, sempre serei grata a Perla e sua família. Pela amizade e acolhimento. E mesmo sem querer, apenas por ser, me fazer perceber o que eu não conseguia antes.

Boston é uma cidade realmente incrível! Acho que é o lugar mais civilizado que já conheci na vida, em relação a respeito, educação, cidadania. Referência da área da saúde, capital financeira dos EUA, onde estão as melhores faculdades do país (vida Harvard e Cambridge), e as maiores descobertas científicas da neurologia e medicina.  Talvez por ser uma das cidades mais antigas dos EUA, sua arquitetura tem um ar colonial,  que chama muito a atenção por contrastar com arranhas-céu e charmosos canais. Boston respira história! Quase me deu vontade de viver lá pra sempre, se não fosse os 8 meses de inverno que os moradores são obrigados a enfrentar. Fizemos diversos passeios, e com o Biel junto a nós, posso dizer que o quesito acessibilidade é um exemplo a ser seguido! É uma cidade muito HUMANA no sentido literal da palavra. Tudo parece feito bem pensado para dar qualidade de vida e conforto aos cidadãos.

Apesar de ser um lugar caro para se viver, os programas para turistas cabem no bolso e a comida é deliciosa e com preço justo. No RJ por exemplo, comer um belo prato de frutos do mar a beira do oceano é um evento para poucos mortais. Em Boston, além do ótimo atendimento e qualidade, não paga-se mais do que $20 dólares em uma refeição completa para uma pessoa. Tivemos tb a oportunidade de fazer um passeio de barco, conhecendo a cidade do alto mar. E não pude deixar de reparar, em um funcionário do programa, deficiente físico! Aliás, por todas as partes os deficientes estão integrados no mercado de trabalho. Tb vi grupo de deficientes intelectuais, todos devidamente identificados com crachás e sorriso no rosto, se divertindo como todos nós. Logo, concluo que a inclusão SOCIAL existe e é possível!

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Selfie de celular com a família amiga!

O bacana, é que eu e a família estávamos conhecendo tudo juntos, pela primeira vez. Era novidade para todos! Passamos por evento de rua em homenagem a heróis de guerra, entramos em um navio-museu, fomos ao “Quincy Market”, parada obrigatória para quem vai a Boston com uma diversidade cultural impressionante e festival gastronômico incrível! Há diversos parques, museus, shows ao ar livre, sem custos. Além de muitos artistas de rua, mega talentosos, como esta menina que não tive como não parar para ouvi-la.

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No meu Instagram: @marihartfotografia tem vídeo dela cantando lindamente!

Um momento top para mim, foi fazer uma refeição tipicamente mexicana comprada em uma espécie de ‘food truck’, sentada na grama perto do “Boston Common” (digamos que seja o “Central Park, de Boston!), assistindo a um show de talentos com muita música, dança, e diversas famílias a minha volta. Que energia boa! Que paz! Que sol junto com ar fresco, quase gelado! Não é preciso muito para se divertir. Mas fomos mais além! Andamos naqueles ônibus que rodam toda a cidade onde o divertido motorista vai narrando curiosidades e histórias sobre os lugares onde passamos. Ahhh, o vai e vem das pessoas! Ahhh, a vida passando sob meus olhos!

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Ache a fotógrafa! =)

Outra curiosidade de Boston, é o tamanho da comunidade brasileira que vive lá. Fui ao show beneficente em prol dos custos do tratamento do Biel nos EUA, com diversos cantores do Brasil. Para quem ainda não conhece essa história de luta e perseverança, acesse: S.O.S Gabriel Machado e vc tb pode ajudar o menino Gabriel concorrendo a um iphone6, clicando aqui:  Rifa Digital.

Além de tudo,  ainda fui a uma festa junina tipicamente brasileira organizada por eles próprios! Confesso não ser fã desse tipo de festa, mas ter conhecido histórias de brasileiros que vivem há tempo tempo lá, foi gratificante! Conheci muita gente bacana e do bem,  em sua maioria mineiros, gente que expressa grande parte dessa comunidade que tanto se ajuda e é unida.

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De todos os passeios, uma cena me chamou bastante atenção, e por isso dou destaque especial. Em um parque público, onde há um tanque de areia em que a irmãzinha do Biel, Maria brincava com os brinquedos locais (sim, os brinquedos tais como: baldes, carrinhos e pás são do parque, e ficam livres e soltos!), um menino de aproximadamente uns 9 anos se aproximou, olhou para o Biel e perguntou: “O que ele tem!? Ele está doente!?” Depois de explicado, ele continuou com suas curiosas perguntas, parecia bastante interessado. Tentávamos explicar da maneira mais simples possível e o menino atento a cada palavra. Ao final, precisávamos nos despedir, e ele perguntou se o Biel poderia voltar para brincar lá com ele. Ao sinal positivo, ele esticou a mão para dar um “Hi Five” e Biel mesmo com toda sua limitação causada pela paralisia cerebral, levantou sua mão junto! Me arrepiei da cabeça aos pés! Pela superação do pequeno guerreiro, e pelo interesse e inocência do menino. Lágrimas foram inevitáveis! E por falar em lágrimas, quase desidratei ao ver pela primeira vez um parquinho totalmente adaptado para crianças cadeirantes! Passei uns 30 minutos chorando compulsivamente, por ver concretizado diante de meus olhos, algo que parecia impossível!

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Não foi muito tempo, mas foi bastante intenso e o suficiente para deixar em mim memórias maravilhosas, ótimas impressões em quesitos que tanto aprecio e dou valor na vida. Como dizia minha falecida avó “menina, vc parece ter bicho carpinteiro! não para quieta!”, e um dia acordei com vontade de aproveitar o restante de minhas férias em outro lugar. Próximo destino: Miami. Porém, espero voltar em breve à Boston, e desta vez levando meus filhos para que possam sentir na pele tudo o que vivi. Noções primordiais de respeito às diferenças e humanidade.  Uma palavra para definir esta cidade linda e acolhedora: Autêntica.

Vejam vocês com seus próprios olhos, através de algumas imagens que capturei nas minhas andanças!

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Everett: a periferia de Boston
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Sinta o ‘nível’ da periferia.

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Da série: ache a fotógrafa!
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O charme nos detalhes!

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Carérrimo um apartamento na cidade. Mais do que vc está pensando.

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Crianças vendendo limonada na rua!

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Foto do IG @marihartfotografia
Foto do IG @marihartfotografia

“Liberdade de voar num horizonte qualquer, liberdade de pousar onde o coração quiser.”

Não é nenhum exagero dizer que minha vida pode ser dividida entre duas eras: antes e depois dos 30 anos. Não que eu renegue minha história, ela é responsável por quem sou hoje. Mas muitas vezes não me reconheço naquela mulher de alguns anos atrás. Pode até ser coincidência a fotografia ter entrado em minha vida justamente neste período de transcedência. Mas posso afirmar que ser fotógrafa me salvou! Me salvou de dúvidas, incertezas, de um emprego infeliz, de uma vida pacata de mãe-donadecasa-esposa. Me salvou de andar com a massa de manobra, de estar sempre buscando algo com a angústia de não saber exatamente o quê.

Foi exatamente nessa fase balzaquiana que descobri o prazer de fotografar, e percebi que eu retratava o que havia em mim. Com isso, fui me conhecendo mais, me (re)descobrindo, passei a olhar mais para dentro de mim mesma, e esse processo de amadurecimento tem um nome: empoderamento.

Empoderar. Tomar o poder para si. Se encorajar. Arcar com o ônus e bônus de suas escolhas, sem culpar ninguém por isso. Aceitar que a cada escolha, há uma renúncia. E que grande parte das vezes em que as coisas saem como não planejado, podem ser ainda melhores do que como foi sonhado. Como disse Paulo Freire, “empoderar é aumentar a capacidade de pensar criticamente e agir autonomamente”. E é isso que busco todos os dias.

A fotografia me deu essa liberdade. E ser livre, para mim é o maior bem que um ser humano pode conquistar em toda sua existência. E hoje, alguns anos depois, me sinto cada mais confiante em ser eu mesma, com todos os meus (muitos) defeitos e reconhecendo minhas qualidades. Com o tempo, aprendi que posso ser quem eu quiser, sem rótulos, sem me preocupar com a opinião alheia, que remar contra a maré pode ser difícil mas não exatamente um fardo. E a cada ano, a necessidade de viver em minha própria companhia foi aumentando. Fui criando uma bolha imaginária e vivendo dentro dela, para aí sim depois ter a confiança de abrir para o mundo.

Em minha “era” anterior, eu andava em bando. Me sentia insegura, desprotegida sozinha. Talvez reflexo de minha educação machista e conservadora, como grande maioria das mulheres vivem mesmo sem saber, nessa sociedade patriarcal e opressora. Eu nunca havia ido a um restaurante ou cinema sozinha, por exemplo. Na nova “era”, a fotografia me fez enxergar além, mesmo sem precisar ir muito longe, bastando olhar para dentro de mim. Hoje, estar sozinha me traz uma sensação de felicidade indescritível! Fui alçando vôos cada vez mais altos e a cereja do bolo, foi uma viagem internacional que fiz recentemente, durante 10 dias em junho.

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Reprodução Instagram: @marihartfotografia

Detalhes não vem ao caso no momento, mas o fato é que eu tinha uma passagem marcada para São Francisco- Califórnia para um projeto que acabou não dando certo, pelas surpresas (nem sempre boas) que a vida nos prega. Mas para mim RESILIÊNCIA é uma palavra de ordem para ser feliz. Ficar de ‘mimimi’ se lamentando, remoendo mágoas passadas não faz meu tipo. E então, decidi encarar uma aventura, não tão bem planejada, mas que deu mais certo do que eu poderia imaginar nem nos meus sonhos mais otimistas!

No dia 09 de junho de 2015 peguei um avião para uma das cidades mais lindas do mundo, sem saber o que fazer onde ficar, nem mesmo hotel eu havia reservado! Tentei resguardar meus planos o máximo possível, pois a cada pessoa que eu comentava sobre a idéia, no mínimo me chamavam de louca! E se isso é loucura, sejamos todos então! Desembarquei em São Francisco em um dia nublado, com mochila de equipamento nas costas e uma pequena mala de mão de algumas poucas mudas de roupa. Através da vidraça, olhei para um lado, para o outro, e pensei: “E agora!? Para onde vou!? Faço uni-du-ni-tê!? Na pior das hipóteses, eu passaria a noite no aeroporto mesmo. Na verdade, eu estava pouco me importando com isso.

Eu queria ter a sensação de não ter que olhar o relógio, checar e-mails, me preocupar com o que comer, ou com compromissos a cumprir. Eu queria arriscar, viver, sentir! Em busca de renovar minhas inspirações, meu olhar, meus sentimentos. Ressalto um ponto muito importante (tá, sei que vcs me chamarão de louca mais ainda! rs), meu inglês é o mais básico possível! Mais um desafio! Mas eu estava disposta e feliz em enfrentá-lo. Com um mapa em mãos, peguei uma van no aeroporto, sugestão de um senhor bem simpático no balcão de informações, e parti para o Centro. Já era final de tarde, uma chuva fina começava a cair, eu precisava ao menos encontrar um abrigo. Mesmo depois de quase 15hrs de viagem com conexão em algum tempo de espera no México, fui bater perna pelas ruas do Centro de São Francisco, tocando de porta em porta de ‘hostels”, até encontrar um porto seguro.

Primeira resposta negativa: não temos vagas. Mais outra. E outra. Inevitável pensar: “Phodeuô, fui longe demais! O que é que tô  fazendo aqui minha deusa!?” Mas como sou brasileira e não desisto nunca, com a ajuda de alguns aplicativos em meu iPhone (Salve Steve Jobs! I love you!) encontrei um hostel bem bonitinho. E o melhor, com quarto particular (muitos só oferecem alojamento conjunto) , chuveiro quente e uma cama king size só pra mim! Definitivamente eu preciso de muito pouco para ser feliz! E me orgulho disso. Uma câmera, um corpo saudável para correr atrás e pronto. Resumo da minha felicidade.

Rapidamente desenrolei com um haitiano, administrador do hostel, deixei minhas coisas, troquei de roupa e parti para a rua. O que eu mais queria sentir era aquela tal liberdade que tanto falei durante todo este post, e coisa que mais prezo na vida (deu pra perceber, né?!). Vento no rosto, sorriso de ponta a ponta a ponta e acho que a alegria interna reflete diretamente no exterior. Cer-te-za que as pessoas em volta, dezenas de desconhecidos, percebiam. Que povo gentil, educado, solidário! Não tenho absolutamente nenhum ponto negativo para falar de todos os que passaram por mim em minha estadia. E lá fui eu, perdida no mundo, com minha câmera no pescoço, sem medo de ser feliz, dando ‘boa-noite!’ aos homeless, bêbados e quem quer mais que cruzasse meu caminho.

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Meia-noite. Me vi sozinha com meus pensamentos no meio da cidade, acompanhada somente de minha câmera e alguns poucos dólares no bolso. E o melhor, sem medo. Fotografava tudo o que me chamava atenção, percebi coisas que em um dia comum poderiam passar batidas. Já cansada, entrei e sentei em um restaurante onde fui muito bem atendida, sem ser assediada por ser mulher, sem ser vista como um bicho à caça (de macho) em  um final de semana à noite. Tomei minha cerveja com uma bela refeição e cataploft, voltei para o lugar que escolhi para passar a noite e caí na cama. Na verdade, desconfio que entrei em coma, tamanha exaustão, adrenalina e alívio em ter um cobertor quentinho para me aquecer. Acordei ao amanhecer do dia na mesma posição que eu havia deitado. Cama irretocável. É. Realmente eu precisava daquela noite de sono, com celular desligado, e todo aquele silêncio soando como música aos meus ouvidos.

Acordei com outro gás, muita energia, e para não perder tempo deixei de lado um café da manhã oferecido e fui tomando um ‘Starbucks’ caminhando pela rua mesmo. Ainda sem saber aonde ir, saí andando, sem destino. Até os sinos de uma praça de chamarem a atenção. Era uma igreja em frente a uma praça com um gramado gigante. Haviam velhinhos fofos papeando nos bancos. Eu recebia e doava sorrisos. Ora largos, ora tímidos. Ao lado deles, mais homeless (moradores de rua, vulgo, mendigos) também batendo papo e conversando entre si. Haviam famílias, crianças correndo, pais com bebês de colo, idosos se exercitando, e um lindo sol chegando. A paz estava ali, na minha frente. Fiquei observando. O exercício de somente olhar, sem interferir em nada, foi fundamental no meu processo de crescimento interior. Eu não sabia que horas eram, e não me preocupava com isso. Continuei seguindo meu coração. E fotografando. E respirando como eu há tempos não fazia. Na verdade, acho que eu já até havia esquecido como era respirar de verdade. Reaprendi. E enquanto caminhava, ainda em destino, fui praticando este exercício. Inspira. Expira. Por um momento parecia até que dava uma “onda”. Mas era só felicidade!

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De repente vi aqueles transportes de 2 andares, próprios para turistas e desejei estar nele. Parei um ônibus qualquer para pedir informação em como chegar ao ponto de partida, e o motorista gentilmente me convidou a subir pois me levaria lá. Mas uma vez sem ser assediada, ou me sentindo julgada pelo tamanho do meu short, que diga-se de passagem, me deixava muito confortável, sem me sentir um afronta a sociedade. Conversa cordial e respeitosa. Eu me sentia bem, me sentia segura. E isso foi essencial para que tudo continuasse transcorrendo bem.

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Gosto de conhecer o diferente, novas culturas, e continuei a observar. Pessoas, famílias, turistas, moradores locais, estilo de vida… E fiz uma constatação. Seja onde eu estiver no mundo, eu atraio pessoas que gostam de contar causos, desabafos. Não me perguntem porquê, eu realmente não sei, já que não sou muito adepta a esse tipo de abordagem. Mas bati altos papos com o vendedor de floricultura, um senhorzinho chinês. Com o caixa da farmácia, que logo me perguntou se sou brasileira, pois ele dizia saber “ler os brasileiros”. Com o segurança da Disney Store, onde entrei por curiosidade para fazer uns clicks para meus filhos. Com uma velhinha fofa que se aproximou apenas para dizer: “You are so beautiful!” enquanto eu observava as frutas em uma banca de feira. Até mesmo um brasileiro morador da Califórnia há 10 anos desabafou sobre a saudade de seu país, sobre sua mãe doente, e claro- sobre o PT. Risos eternos!

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A cereja do bolo foi atravessar a Golden Gate em meio a densa neblina, literalmente, de cara! Cabelos ao vento, pq descabelar faz bem! Quase tendo uma hipotermia pela mudança brusca de temperatura, mas com uma alegria inabalável. Com um fone de ouvido conectado ao banco, eu ouvia do guia turístico toda a história da cidade, e ao mesmo tempo fazendo dezenas de clicks de toda aquela imensidão cultural a minha volta.

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Reprodução Instagram: @marihartfotografia
Reprodução Instagram: @marihartfotografia

Eu já conhecia São Francisco, em uma viagem feita ano passado. Mas de outra forma, em outro contexto, com outra visão. E isso me levou a escrever algumas considerações sobre esta cidade tão encantadora e fascinante!

– Quantas flores! Muitas! De diversos tipos, cores e texturas. Qta beleza natural!

– É a capital dos orgânicos. A oferta de frutas, legumes, verduras é gigantesca, por todos os cantos.

– É uma cidade mega populosa, com uma diversidade étnica muito grande. Referência de movimentos gays e hippies, porém, todos iguais.

– Não importa o clima. Faça chuva, faça sol, sempre haverão pessoas se exercitando. Seja surfando, correndo, pedalando, fazendo yoga a céu aberto. Confesso invejar a disposição dos locais!

– A noite é mega badalada! Ao contrário do RJ em que lugares fecham cedo e, dias de semana, em São Francisco me parece que a noite é uma criança. Mas esta não é minha praia, então, sorry, esta eu passo! Talvez em uma outra vida.

– O contraste das arquiteturas tb me chamaram bastante atenção. Uma mistura moderna com um estilo vitoriano, lado a lado em perfeita harmonia.

– Dá para sentir o cheiro de cultura no ar! Música, fotografia, cinema… em pleno domingo as bibliotecas públicas ficam lotadas de famílias com crianças!

– Ladeiras, Muitas ladeiras! Por todos os lados, o tempo todo!

– As pessoas não estão nem aí uma para as outras no sentido de reparar em roupa, cabelo, postura, comportamento, ou o que quer que seja. Cada um é o que é e ponto.

– O povo americano tem pencas de filhos! Invejinha mode on.

– Não posso deixar de citar a acessibilidade a cadeirantes e pessoas com dificuldades de locomoção. É muito comum ver idosos sozinhos nas ruas com seus andadores, bengalas, cadeiras elétricas, exercendo livremente seu genuíno direito de ir e vir.

Se eu pudesse definir em uma só palavra, eu diria: singular. 

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Em uma de minhas andanças encontrei uma feira de artes, e de longe o que me chamou atenção foi uma imagem que fala muito sobre mim. Fui até ela com os olhos brilhando! Quem vive no meio de partos e humanização, sabe bem o que ela representa. Acredito muito nos sinais ocultos que a vida nos dá, e precisamos estar atentos para percebê-los. E encontrar esta arte, foi muito significante para minha viagem, meu caminho, e minha história. Tanto que na volta ao Brasil, virou uma enorme tatuagem em minhas costas. A fórmula química da ocitocina! Entre outras tantas frases e dizeres maravilhosos, impressos em madeira rústica.

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Era tanta novidade, tanta coisa maravilhosa para absorver, que eu esquecia até mesmo de me alimentar! Acredito que eu estava me alimentado de amor, de vontade de viver, de fotografia, de alegria em estar solta no mundo. Há muito mais em São Francisco. Os bondinhos, Chinatown, O Emarcadero, Alcatraz, a famosa Lombard Street. Depois de mais uma noite de descobertas, uma bagagem que levarei para sempre dentro de mim que não caberia apenas em um post, estive em contato com uma amiga brasileira em Boston, e ela disse: “Mari, vem pra cá que tem um programa pra gente na sexta-feira!” Opa! Não falei que precisamos estar atentos aos sinais?! E lá fui eu na manhã seguinte, para o próximo destino: Massachusetts’! Mas enquanto o próximo post não vem, deixo mais algumas imagens desta cidade que conquistou meu coração!

“If you’re going to San Francisco

Be sure to wear some flowers in your hair

If you’re going to San Francisco

You’re gonna meet some gentle people there

For those who come to San Francisco

Summer time will be a love-in there

In the streets of San Francisco

Gentle people with flowers in their hair…”

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Moça, vc me representa! =)

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Selfie!

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De tudo um pouco. Do pouco, um tudo.

No último ano, entre ensaios, festas e partos, foram pouco mais de 100 trabalhos realizados. Centenas de pessoas retratadas pelas minhas lentes. Dezenas de famílias que confiaram a mim a missão de registrar momentos importantes de suas vidas. E meu sentimento é um só: o de GRATIDÃO!

Quando criei este blog, em janeiro de 2014, pensava em mais um canal de comunicação com as pessoas que curtem minha arte. Mas a fotografia me levou a lugares inimagináveis. Isso foi me tomando muito tempo e como tudo na vida tive que priorizar, além do que tenho 3 filhos para educar, exercer minha maternagem ativa e consciente. E a escrita que tanto me encanta, foi ficando de lado. E por isso este espaço que mal havia começado, ficou esquecido.

Mas a vida é circular. E mais um ciclo se fechou. Com a exaustão física e mental que meu trabalho foi me trazendo, sem eu perceber o prazer em exercer minha profissão foi ficando para trás. Passei a me questionar, a reavaliar valores e conceitos, e a me perguntar o que de fato eu queria para mim, para minha vida, para minha carreira.

Crise existencial!? Talvez. Chega-se a um certo ponto da vida em que é inevitável olhar para trás, por todo caminho percorrido e se perguntar: “O que posso fazer de melhor?” E definitivamente, aquele não era o melhor de mim. Eu estava sobrecarregada. E então, decidi despir a capa de super-mulher.

Eu simplesmente AMO fotografar partos. Mas tive que limitar uma quantidade mensal (apesar da minha grande vontade de estar em todos os partos do RJ!), e caí na real quando em 1 mês estive presente em 5. Lembrando que não fotografo cirurgias agendadas, o que tornaria tudo muito mais fácil. O parto é a coisa mais incerta que existe. Não sabemos quanto tempo irá levar, qual será o desfecho, se eu como fotógrafa estarei chegando cedo ou tarde demais. A logística é complicada, conciliar com eventos todos os finais de semana e rotina familiar então… a conta não fecha. Hoje, olhando para trás, nem sei como consegui.

Em contrapartida, AMO estar com crianças! Elas animam meu dia, muitas vezes fotografo festas infantis com um sorriso de ponta a ponta o tempo todo, sei todas as letras de músicas infantis “da moda” de cor e salteado. Elas fazem do meu mundo muito mais feliz! Mas comecei a me sentir pesada cobrindo até 4 festas por final de semana. Entre uma e outra, conseguia encaixar alguns ensaios. São em média 4 horas de pé, andando pra lá e pra cá, agachando, levantando, subindo e descendo, muitas vezes sem parar nem ao menos beber um copo d’água! Sem contar a distância, trânsito no RJ, desgaste com transportes e percalços no meio do caminho. Chegava em casa com a sensação de ter sido atropelada por um caminhão, com o corpo dolorido, coluna arrebentada, me alimentando mal e sem muito tempo para descanso. Isto começou a limitar minha criatividade e eu me sentia péssima com isso!

E novamente vinham aqueles sentimentos contraditórios. Como eu poderia me sentir tão desgastada com aquilo que amo e sempre sonhei para mim!? A resposta era clara, mas diante do meu cansaço eu não conseguia enxergar. O “segredo” está na dosagem. Eu não conseguia dizer não diante de uma brecha na agenda. A cada mulher empoderada e cheia de sonhos que vinha me pedir para fotografar seu parto, eu verdadeiramente desejava estar lá. Cada festa de bebê/criança que acompanhei desde sempre, eu queria estar junto! E comecei a esquecer de mim. Da minha saúde, do piegas “meu eu interior”. Mente sã, corpo são. Nenhum dos dois estava legal. E passei a ter uma certeza: precisava desacelerar.

Há 2 anos eu fazia planos com meu marido de passar uma temporada no exterior com as crianças. Sentir o que é viver no 1º mundo, dar aos meus filhos a chance de saber o que é viver em um mundo civilizado. Era um plano a longo prazo, apesar de bem concreto. E então de repente, paramos, ponderamos e falei: “Se esperarmos o momento certo, ele não chegará nunca!” Já havíamos conquistado tudo o que almejávamos, precisávamos de novos desafios! E no dia seguinte desta conversa, meu marido pediu desligamento da empresa onde trabalhava há 9 anos. Era o primeiro passo para uma grande mudança. E aqui estou eu hoje, escrevendo de Miami, Flórida. Com medo, não nego. Mas com muita coragem, muito amor, e vontade de fazer dar certo!

Desejo dar continuidade a este canal falando um pouco sobre minha fotografia, meu ativismo, minhas verdades, e minha nova e velha vida. Há muitos trabalhos e imagens inéditas para compartilhar, que pela falta de tempo (olha ele aí de novo! Tempo, tempo, tempo…) não consegui atualizar em minha fan page. Não sei com que frequência o farei , pois ainda há muito trabalho, mas de outra forma.  Adaptação, moradia, nova cultura… tudo-ao-mesmo-tempo-agora. Mas sem pressa e sem pressão, tudo se torna muito mais leve e gostoso! Quem quiser, é só dar as mãos e vir comigo!

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O pessoal X o profissional

Costumo dizer que comecei fazendo o caminho contrário da maioria dos profissionais da fotografia. Quando eu brincava por aí com uma câmera amadora, minhas amigas diziam: “Vc tem que ser fotógrafa!”. Foi a partir dos outros que começou a me despertar o desejo, e deu aquele click em minha mente: “Pq não!?”. Em festas, encontros, passeios, eu era sempre a responsável pelos registros, mesmo com uma Sony H-50 em mãos. E foram elas que me estimularam a começar a estudar e enfim procurar meu primeiro curso. Não posso deixar de citar tb meu marido, o maior incentivador!

E então, quando me profissionalizei, elas foram minhas primeiras clientes. E desde hoje meu trabalho é assim, propaganda no “boca a boca”. Uma indica pra outra, que indico pro outro, e por aí vai… Começaram a surgir contato de pessoas que eu não conhecia, clientes “de verdade”. Falo “de verdade” pq quando estamos entre amigos, ficamos mais à vontade, tranquilas, a vibe é diferente. E quando outros começaram a aparecer, veio uma grande questão: Como dividir o pessoal do profissional?!

Sou uma pessoa com pensamentos e opiniões que nadam contra a maré da maioria.  Sou ativista do parto natural humanizado, enquanto no Brasil 90% das mulheres da rede privada de saúde, fazem cesariana. Sou atéia, em um país com pouca tolerância religiosa. Sigo uma linha de criação diferente e alternativa com os filhos, qdo levantamos temas como palmadas, vacinas, rotina, babás, alimentação, etc… E qdo um cliente te adiciona em uma rede social, é uma sinuca de bico! Ele terá acesso à Mari mãe/mulher e não somente à profissional. E uma coisa pode interferir a outra. Por isso sempre busquei separar as duas coisas. Mas nos tempos tecnológicos hoje em dia, é praticamente impossível! E as coisas voltam a se misturar.

Confesso não ser fácil para mim ir fotografar uma festa de 1 ano, com o aniversariante comendo batata-frita, guaraná e coxinha frita. Me dói a alma. Mas procuro ser o mais profissional possível e esquecer de minhas convicções. Quando vou fotografar uma gestante, e ela me diz: “Meu filho vai nascer dia ‘x’, vc pode fotografar!?” É preciso tato para explicar que não fotografo cesarianas eletivas. E quando me pedem orçamentos para ensaio “Smash the Cake”. Sutilmente sugiro um “Smash the Fruit” pois vai contra minha verdade dar açúcar puro para um bebê.

Essa separação da mãe e mulher que sou, da profissional, é um desafio. Para que do outro lado ninguém se sinta diminuída ou discriminada, mas ao mesmo tempo não me permito ir contra minha verdade. E é aí que precisamos ter jogo de cintura, cuidado com as palavras e manter uma postura profissional. Felizmente, muitas vezes a identificação é tão grande, os dois lados se encontram, que há clientes que viram amigas. E esse é um dos grandes sabores da profissão! Não ter só amigas-clientes, mas clientes que viraram amigas.

No final das contas, concluo que as pessoas são diferentes e como tal, há uma palavra que é a chave de tudo: respeito. Quando há respeito sobre as escolhas de cada um, há paz, harmonia e os dois lados- o profissional e pessoal, podem andar juntos lado a lado. Cada um, é um universo e se manter neutro às questões alheias, pode ser o segredo do sucesso.

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Imagem: Giovanna. Filha da Carlinha, amiga que virou cliente. Hoje à tarde faremos o ensaio de 2014!
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Imagem: Kathleen amamentando Pedro Bernardo. Minha primeira cliente que virou amiga!

“Você é aquilo que ninguém vê. Uma coleção de histórias, estórias, memórias, dores, delícias, pecados, bondades, tragédias, sucessos, sentimentos e pensamentos. Se definir é se limitar. Você é um eterno parênteses em aberto, enquanto sua eternidade durar.”

 

 

O prazer de fotografar. E a fotografia por prazer.

Existem uma frase que diz: “Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida….” E quem é fotógrafo, em sua grande maioria pode dizer que a frase é mais do que verdadeira. Não que a profissão seja só glamour, muito pelo contrário. Além de um dedicado estudo que citei no post anterior, é preciso garra, determinação, foco e persistência. Além de entrega, disposição física e um tanto de psicologia para lidar com diversos tipos de público. Ressalto que falo sobre fotógrafos “de verdade” e não aqueles que compram um DSLR, e saem clicando no modo automático entregando um trabalho porco, denegrindo a imagem de quem realmente leva à sério.

Por trás de uma câmera, há uma pessoa com vida. Óbvio!? Nem tanto. De maneira geral, fotógrafos não tem rotina, horários fixos a cumprir, e final de semana é uma coisa quase inexistente. É preciso abrir mão de muita coisa, até mesmo de certos momentos com a família. Afinal, a fotografia não se resume a somente algumas horas fazendo registros, há um workflow por trás, prazos a cumprir, contato pré-durante e depois com o cliente. Há a pós-produção que requer mais cuidado e atenção. E isso requer tempo. Definitivamente, não é só apertar um botão!

Não enxergo esse lado de forma negativa.  E por mais que façamos, há a parte burocrática que não é das mais atraentes, mas extremamente necessária. E por isso, além do prazer em trabalhar, é necessário fotografar por amor. Exercitar o olhar, se permitir arriscar e até mesmo errar. E isso não se faz com o cliente, há seu nome em jogo e uma expectativa do contratante que não pode deixar a desejar. E é aí que entra o que chamo de “fotografia no amor”. Aquelas que fazemos pelo simples prazer em estar com a câmera em mãos, se redescobrindo, ampliando horizontes, e isso não envolve remuneração. Na conta final, o pagamento é outro! Afinal, a cada clique aprendemos algo novo, coisas que o dinheiro nunca poderá pagar e não se aprende nos livros.

Eventualmente ‘pego’ amigas e/ou seus babies e proponho que façamos fotos, quase como uma brincadeira, no intuito de experimentar coisas novas o que nem sempre dá certo, mas sair com a barriga doendo de tanto rir, compensa qualquer esforço. Levanto a bandeira contra a prostituição da fotografia. Pagar R$100,00 em um ensaio fotográfico, basta ir em sites de compra coletiva que haverão vários. Mas a partir do momento em que contratamos um profissional da área, acredito que não estejamos pagando pelo serviço em si, mas comprando o seu olhar. E este, é único. Diferenciado.

Minha linha de pensamento é: não quero ganhar trocados pela minha arte. Mas posso presenteá-la a quem quero bem. É mais justo. E pelo meu ponto de vista, mais correto. E é assim que busco em mim o constante prazer em fotografar, o que renova meu olhar e perspectiva diante de futuros possíveis trabalhos. Ao ser contratada, faço com amor. Aos demais presenteados, faço no amor. E ao contrário do que se pode imaginar, as recompensas são muitas. Não só a atividade de criatividade e cruzar com amigos que topem minhas idéias. Vai mais além. Desperta cada vez mais a sensibilidade e prazer que há dentro de mim a cada clique, a cada sorriso espontâneo que tenho o privilégio de registrar e acima de tudo, me fazer relembrar o pq de ter escolhido este caminho. E assim, sinto que não trabalho um único dia na minha vida.

Comparo a um jogador de futebol, que começou jogando uma pelada no quintal de casa com os amigos. A responsabilidade em se profissionalizar, obviamente é gigantesca e ele paga suas contas com isso. Mas a alegria em estar exercendo algo que te dá prazer, é imensurável. Conosco não é muito diferente, e nem estou falando sobre dígitos na conta bancária! Mas na intenção. Nada perdemos, apenas substituimos. Essa é minha filosofia.

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“Que câmera comprar?”

“Que câmera devo comprar?” Provavelmente este é um dilema de 9 entre 10 aspirantes à fotografia. Vejo esta pergunta em fóruns de discussão na web, em sites, blogs, em roda de amigos e eu mesma já recebi alguns e-mails pedindo ajuda sobre esta decisão que precisa bem acertada, afinal- falamos sobre 4 (ou mais!) dígitos.

Vamos combinar uma coisa e que fique claro na cabeça de todos: o custo é alto, isso é um fato. Levando em consideração o salário mínimo brasileiro, é um investimento que precisa ser bem pensado, pois não haverá espaço para futuros arrependimentos. E para isso, volto àquela palavrinha que precisa estar sempre presente junto com quem pretende entrar neste meio: estudar.

Pesquisar custo X benefício, estudar suas possibilidade de investimento inicial, procurar saber opiniões de outras pessoas mais experientes (foi muito importante pra mim!), e até mesmo onde e como será comprado. No exterior!? As taxas compensam!? Ou talvez o preço superior no Brasil compense a garantia da máquina!?  Em quanto tempo terei o retorno deste investimento?!

Pois sinto muito decepcionar vocês, mas é algo muito pessoal. Darei apenas meu ponto de vista baseado em minha experiência única e individual (como tudo o que pretendo expressar por aqui) e diante dele, tirem suas próprias conclusões!

Quando decidi começar a estudar fotografia, terminei meu primeiro curso no Senac Rio e pensei: “E agora?!” Tive um ótimo mestre, mega experiente, sempre disponível, generoso, paciente, sempre pronto para atender toda e qualquer dúvida.  Ele usava uma Nikon,  obviamente profissional, Full Frame (e eu nem sabia o que significava isso!). E eu, humildemente brincava com minha Sony H50. Antes do próximo curso, já agendado, pós a introdução à fotografia, precisava de uma DSLR*. Mas estava passando por questões financeiras complicadas, e precisava escolher; pagar os cursos e workshops, ou “A” câmera. E como “A” câmera não seria nada sem a técnica,   praticamente uma Ferrari com motor de fusca, optei pelos cursos.

É piegas meus caros amigos, mas devo dizer. Sua câmera jamais fará a fotografia, e sim a mistura de seu olhar, sua perspectiva, com o aprendizado técnico e bom manuseio dos comandos da câmera. Que fotógrafo nunca ouviu: “Nossa, que foto linda! Sua câmera é maravilhosa!” Eu escuto SEMPRE. E já passei da fase de me sentir ofendida, hoje em dia eu sei que é somente falta de informação e um tanto de inocência. Afinal, ninguém é obrigado a saber do que se trata ISO, diafragma, obturador e afins. Há alguns (poucos) anos atrás, isso me soaria como grego e não parte de mim como é hoje.

Partindo desse princípio, escolhi uma Nikon considerada semi-profissional, embora vendida como profissional, por ter todos os recursos de uma câmera completa. Dei meus primeiros passos com ela, fui muito feliz nos meus cliques, aprendizados, mas chegou um momento em que eu necessitava de mais. A grana continuava curta, afinal sempre priorizei os estudos, continuava investindo em workshops, alguns bem específicos (falarei sobre eles depois). Nunca quis ser daquelas que compra uma DSLR e se autointitula fotógrafo. Não. Qdo me disponho a fazer algo, quero que seja bem feito. Nem sempre fazemos gol, mas o objetivo principal é o chute em direção à rede.

1 ano se passou. 12 longos meses. Foi o tempo de amadurecer a idéia, buscar minha verdade e então dei uma reviravolta. Me apaixonei por Canon! Caso vc esteja iniciando neste mundo, ou seja um mero expectador, fique sabendo: há uma guerra sem fim entre Nikonzeiros X Canonzeiros. E para mim, é tudo ba-le-la, beira o ridículo, pois ambas são equivalentes. Fui chamada de “traíra” e “vira casaca”, vejam só! Tudo na base da brincadeira é claro. Mas eles tem razão. No fim das contas, esta rivalidade não faz sentido. Sabe a briga entre Pelé e Maradonna!? Então… [risos!] Mas segui meu feelling e digo com orgulho que sou Canon de coração!

No fim das contas, a grande verdade é que tudo vai depender da escolha de sua lente. Em algumas situações, a câmera será uma coadjuvante. E esta escolha, vai de acordo com seu foco na fotografia. O que vc pretende fotografar!? Estúdio!? Externas?! Paisagem!? Moda!? Still!? Crianças?! Eventos?! A fotografia é tão ampla, nos traz tantas possibilidades, os caminhos são tão infinitos, que esta pergunta “Que câmera comprar?”, nem deveria ter resposta. Não exata. Portanto, bato novamente na tecla: continue estudando! A SUA resposta virá. Mais cedo ou mais tarde, como veio para mim.

*DSLR: digital single-lens reflex

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Eu e minha 1ª câmera, a Nikon D3100, clicada por uma grande amiga em uma tarde fotográfica.

Parto com Amor!

No post anterior, ressalto que fotografamos com nossa história, nossa cultura. De um ponto de vista comercial, o mercado fotográfico abrange muitas áreas. Não se pode atirar para todos os lados, é necessário seguir e trilhar um caminho. Desde meu primeiro dia de aula em um curso de fotografia, eu já tinha algumas certezas. Entre elas, que gostaria de fotografar tudo o que envolve o mundo materno.

E assim foi.

Sou mãe há quase 14 anos. Sei quais as agruras e alegrias de uma gestação. Passei por duas absolutamente diferentes, a primeira de parto normal, saudável, clinicamente perfeita, quando nasceu uma menina. Já a segunda, gestação gemelar, complicações, repouso, prematuridade, cesariana, meninos.  Sei o que é sentir um bebê sair de suas entranhas. A sensação de um seio jorrar leite. E tb sei o que é ter 7 camadas de seu corpo cortados em uma cirurgia de médio porte, e ter seus filhos longe em uma fria UTI neo natal. Não me espanto com nada. Sangue não me intimida nem um pouco e acho a placenta linda de viver!

Esta bagagem, atinge diretamente o foco do meu trabalho. Me sinto completamente confortável e segura em fotografar um momento tão íntimo de uma mulher. Me sinto na pele dela e ajo como gostaria que agissem comigo nesta hora. Com discrição. No parto, nós despimos a alma e surgem nossos instintos mais primitivos, como animais que somos. E esse furacão que é uma mulher parindo, é a coisa mais bela, sublime e fantástica que existe. Posso afirmar. Eu vi! Eu vivi! E por isso, é um privilégio (e responsabilidade grande!) estar ali. Não há nada no mundo mais espetacular.

Eu já havia fotografado cesarianas, mas a vibe de um centro cirúrgico não é das melhores. Traz a idéia de doença e não de vida que é um nascimento. Momento único e precioso. Um evento fisiológico, que é erroneamente medicalizado pela tecnologia. Por questões de filosofia de vida, decidi que não faria mais tais cirurgias. Estava indo contra a minha verdade, aquela que sempre busco. E com isso, a vontade de vivenciar o registro de um parto normal cresceu em mim.

99% das gestantes que eu fazia ensaios, não queriam PN. Direito delas, quem sou eu para julgar. Escolhas, somente isso. E foi então que uma amiga me contou sobre seus planos de engravidar e fazer um parto domiciliar e combinamos que eu faria as fotos. Tudo transcorreu perfeitamente, ela engravidou, conquistou seu sonha VBAC* domiciliar, e foi assim que “desvirginei”! Em grande estilo, sambando na cara da sociedade, remando contra a maré, derrubando mitos! E foi somente ali, depois de tantos anos defendendo o parto normal, é que descobri um mundo paralelo: o do parto humanizado. E agradeço a pequena Tarsila e sua mãe por isso.

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Pronto. O cheiro de vérnix é embriagante. A ocitocina contagiante.

Se eu já era uma entusiasta, “a chata do parto normal”, aquela que dava a cara a tapa no próprio blog materno abordando o tema, passei a ser ativista. Algo (re) nasceu dentro de mim, me encantei, apaixonei e fui atrás. Fotografei outro parto natural e em seguida fiz o Workshop de fotografia de parto de uma fotógrafa fera de SP. Mais luz nos meus caminhos, a vida me apontando a direção certa, me mostrando onde ir. Logo vieram outras oportunidades. Parto Domiciliar na água, parto normal hospitalar, parto natural hospitalar… que logo compartilharei imagens com vocês.

Este é só o início, e 2014 promete! Muitos bebês estão a caminho de um nascimento digno, respeitoso e com muito, mas muito amor! Cada um ao seu tempo, em sua hora. Aguardemos todos, com todo carinho e serenidade, que este momento merece.

 

“Depois que um corpo comporta outro corpo, nenhum coração suporta o pouco.”

 

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*VBACVaginal Birth After Cesarean

O começo de tudo…

Um blog de fotografia é um projeto que venho martelando em minha cabeça há algum tempo. Eu vivo fotografia, respiro fotografia, ela mora em mim, isso é um fato. Há 2 anos fotografando profissionalmente, sinto que tenho muito a dividir, compartilhar e tb aprender, é claro.  Muitos aspirantes a fotógrafos, vem até mim pedir dicas, sugestões  e uma frase feita que sempre digo, porém extremamente verdadeira é: “Nunca deixe de estudar.” Mas quando falo estudar, significa olhar para si, pesquisar seu interior, fazer auto avaliações, e até se perguntar onde se quer chegar. Partindo desse princípio, acho que aprender fotografia vai muito além dos livros e teorias. É preciso ter a mente e coração abertos, para encontrar a sua própria arte, autêntica e visceral. E para isso, é preciso inspiração, coisa que não vem de uma hora pra outra, precisamos exercitar.

Música me inspira. Filmes me inspiram. Ler histórias me inspira. Pessoas em geral me inspiram. É algo muito particular e individual de cada um, essa sou eu. Uma coisa que decidi desde meu primeiro trabalho profissional, é que somente faria o que me dá prazer. Se não fosse assim, eu me sentiria violentando a mim mesma. E exatamente por isso escolhi trabalhar com o que amo: o mundo materno. Grávidas, partos, bebês, crianças… esta é minha vida, este é meu clube. Fotografar com frescor no coração, com aquele entusiasmo típico de iniciantes (que de fato sou), o frio na barriga que não pode faltar jamais, pois sem ele, nada faz sentido.

Há 2 anos, busco meu estilo, naturalmente. É tentando, errando e acertando que vou atrás da minha verdade, sendo fiel a meus sentimentos, tentando imprimir minha personalidade em cada registro. Aos poucos, vou vendo um sonho se tornar realidade, que é ter a possibilidade de viver da minha cultura, pois a fotografia nada mais é do que o reflexo de sua história, contada através da luz. E para isso, é preciso estar sempre se reciclando, olhando para o lado de dentro, mas do lado de fora (ô tarefa difícil!) e se redescobrindo.

Neste blog que nasce, pretendo contar um pouco de minhas aventuras como fotógrafa, expressando sentimentos, embora tentando preservar ao máximo os envolvidos. Estou em contato direto com diversos núcleos familiares e discrição é uma palavra de ordem na minha postura como profissional. Mas por trás de uma fotógrafa “invisível” como muitas vezes procuro ser para conseguir os cliques mais espontâneos possíveis, há uma mulher, mãe comprometida com a maternagem, ativista do parto natural, entusiasta da escrita, com certezas, convicções, opiniões que remam contra a maré, que devem ser expostas de uma maneira clara, mesmo que leve e sutil.

Volto a dizer que fotografar vai além de técnicas, embora elas sejam fundamentais e indispensáveis, não abro mão. Mas tb é necessário colocar na frente das lentes, um pouco de seu corpo, alma e coração. “Entrega” define o tipo de fotografia que escolhi pra mim. E neste quesito, minha consciência está cristalina. Lealdade à minha personalidade e estilo de vida, onde não pode faltar sentimento e emoção. Contudo, “repara bem no que não digo.” A comunicação escrita tem dessas.

eu